Título: PF prende 2 delegados por corrupção
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/06/2006, Metrópole, p. C1

Dois delegados da Polícia Civil, três auditores da Receita Federal e outras 11 pessoas - empresários, despachantes aduaneiros e supostos laranjas - foram presos, ontem, pela Polícia Federal, sob acusação de participar de um esquema de liberação de mercadorias ilegais no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Um dos policiais é André Di Rissio, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. O outro é Wilson Roberto Ordones, que atuava em Viracopos. Ele passou mal ao ser preso e teve de ser hospitalizado.

Os delegados, que tiveram a preventiva decretada, são apontados como intermediários entre os empresários e agentes da Receita. Na casa de Di Rissio, foram encontrados dois carros Jaguar, que, segundo a PF, estariam em nome de empresas supostamente envolvidas no esquema. As outras 11 pessoas estão presas temporariamente, por cinco dias. A Justiça Federal decretou sigilo no processo.

A Operação 14 Bis, como foi batizada a força-tarefa que uniu PF, Ministério Público Federal (MPF) e Receita Federal, cumpriu ontem, no Estado, 30 mandados de busca e apreensão. Segundo balanço da PF, foram apreendidos R$ 180 mil, relógios e dólares. Iniciada há mais de um ano, a operação investiga a possível prática de cinco crimes: corrupção passiva, corrupção ativa, facilitação ou descaminho, tráfico de influência e formação de quadrilha.

O superintendente da Receita Federal em São Paulo, Edmundo Spolzino, explicou que já há indícios de cinco ilícitos: subfaturamento das mercadorias (declara a carga por um valor menor ), classificação fiscal indevida (a alíquota de imposto é definida de acordo com isso, então, se muda a classificação, paga menos imposto) e falsa declaração de conteúdo. As cargas envolvidas vinham dos Estados Unidos e eram equipamentos eletrônicos em sua maioria.

De acordo com a PF, os delegados intermediavam o contato entre empresários donos de mercadorias ilegais e auditores fiscais, para negociar propinas para liberar as cargas. Um funcionário do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) está entre os presos, acusado de participar do esquema.

Segundo o superintendente da PF bo Estado, Geraldo José de Araújo, a ação teve "êxito de 100% e pode haver novos servidores envolvidos". Ele disse não ser possível precisar desde quando a suposta quadrilha agia, nem o dinheiro movimentado. Araújo não ficou surpreso com os envolvidos. "É mais uma forma de crime organizado dentro da máquina pública", disse. "O destino dos delegados, após interrogatório, será entregue à Polícia Civil, como dispõe a lei."

Um dos presos, o dono da transportadora Braservice, Vicenzo Carlo Grippo, foi interrogado ontem e negou participar do esquema. O advogado dele, Benedito Pereira Leite, pedirá a reconsideração da prisão.