Título: CPI tem prova de propina de R$ 867 mil ao PT-CE
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Nacional, p. A6

O empresário Luiz Antônio Vedoin, que comandava a máfia das ambulâncias, entregou à CPI dos Sanguessugas provas e documentos que confirmam a movimentação de R$ 867,8 mil nas contas de José Caubi Diniz e Raimundo Lacerda Filho, apontados pelo empresário como intermediários de José Airton Cirilo, ex-presidente do PT no Ceará e membro do Diretório Nacional do partido.

Obtidos com exclusividade pelo Estado, os documentos - um total de 64 páginas, com cópias de planilhas e operações bancárias - demonstram que Vedoin depositou a propina mensalmente, ao longo de 2003. Os valores comprovam que os dois receberam de uma só vez até R$ 56 mil.

De acordo com Vedoin, os dois se apresentavam como representantes de Cirilo junto à Planam. Até passagens aéreas emitidas pela Aeroway Turismo eram pagas pela quadrilha.

Em depoimento à Justiça, Vedoin afirmou que o pagamento atribuído a Cirilo seria resultado de acerto para que o então ministro da Saúde, Humberto Costa, liberasse R$ 8 milhões para a Planam pelo pagamento de cem ambulâncias compradas no apagar das luzes do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Vedoin contou à Justiça que entregou as ambulâncias em setembro de 2002, mas não recebeu o pagamento. Ele iniciou um processo de negociação com o ministro, que, em um primeiro contato, se negou a pagar. Num segundo momento, o dinheiro começou a sair. Foi em 2003, primeiro ano do governo Lula, em articulação que teria envolvido o Ministério da Saúde.

Diante da dificuldade, Diniz e Lacerda Filho apresentaram-se como representantes de Cirilo para vender facilidades. Na época, disse o empresário, os dois contaram que souberam das dificuldades de Vedoin com o governo por meio do chefe de gabinete do Ministério da Saúde, Antônio Alves, homem forte da gestão Humberto Costa.

A negociação teria ocorrido na ante-sala do gabinete do ministro. Pelo acordo, ficava para Cirilo o papel de convencer o ministro a liberar o dinheiro.

Vedoin disse que os intermediários citaram o nome do chefe de gabinete. Afirmou, também, que pagou R$ 22,4 mil em despesas de hospedagem para Antônio Alves e outras seis pessoas ligadas a ele. Alves nega.

A movimentação na conta dos dois chama a atenção pelo nível de organização. A saída do dinheiro está toda contabilizada e documentada, como se fosse despesa regular, de empresa legal. Mas o título do documento, "acerto Diniz", indica que se trata de um suposto propinoduto. Ali, estão listados os dias dos depósitos, as ordens bancárias e os nomes dos beneficiários. Os depósitos eram feitos em agências do Banco do Brasil.