Título: Máfia tentou obter R$ 25 milhões no Banco do Nordeste
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Nacional, p. A6
O depoimento reservado prestado pelo empresário Darci Vedoin à CPI dos Sanguessugas mostra que a máfia das ambulâncias preparava, com a ajuda de dirigentes do PT do Ceará, um ataque ainda maior aos cofres públicos. O alvo seria o Banco do Nordeste (BNB), que tem sede em Fortaleza e financiaria com R$ 25 milhões uma fábrica de carrocerias de microônibus que o grupo planejava instalar no interior da Bahia, para ampliar seus negócios - e passar do esquema de varejo, usando emendas ao Orçamento da União, para uma escala em que seria possível fraudar no atacado.
"Pai, nós temos que partir para um outro negócio", teria dito Luiz Antônio Vedoin, filho de Darci, em 2003, de acordo com o depoimento deste aos parlamentares. No mesmo ano, os Vedoins apresentaram um projeto ao BNB prevendo a construção da fábrica de carrocerias, que seria instalada no município de Dias D'Ávila (BA) e se chamaria Vedobus. Do custo total do projeto, estimado em R$ 25 milhões, o banco estatal teria se comprometido inicialmente a emprestar 70%.
Em seu depoimento à CPI, Darci revela que passou a enfrentar dificuldades para assinar o contrato de empréstimo e não conseguia ser recebido pela diretoria do Banco do Nordeste. "Quando nós chegamos lá, ninguém da diretoria teve a capacidade de sentar conosco. Quem veio sentar conosco foram técnicos", contou.
Foi nesse momento que entrou em cena um outro personagem da quadrilha, Ivo Spínola, destacado pela família Trevisan-Vedoin para cuidar especialmente do projeto na Bahia e da sede da Planam em Brasília. Sua indicação era para substituir a então responsável pelo escritório, Maria da Penha Lino, que tinha sido convidada a integrar a equipe de assessores do ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe.
Hoje Spínola será ouvido pela Justiça Federal de Mato Grosso e deverá esclarecer a sua participação nas negociações para instalar a fábrica de carrocerias. De acordo com Luiz Antônio, a aprovação do projeto no BNB passou a depender, em determinado momento, da influência do então presidente do PT no Ceará, José Airton Cirilo. É esse elo entre PT cearense, BNB e máfia das ambulâncias que o ex-funcionário da Planam será convidado a descrever em detalhes.
DÓLARES NA CUECA
Em uma investigação anterior, o Ministério Público Federal no Ceará havia detectado indícios de um esquema de propina dentro do Banco do Nordeste. Foi no célebre escândalo dos "dólares na cueca", durante as investigações do mensalão, em julho do ano passado. Na ocasião, um ex-assessor parlamentar do PT, José Adalberto Vieira da Silva, foi preso no Aeroporto de Congonhas, com US$ 100 mil na cueca e R$ 209 mil numa mala.
O assessor trabalhava no gabinete do deputado José Nobre Guimarães (PT), irmão de José Genoino, ex-presidente do PT. Os procuradores concluíram, nesse caso, que o dinheiro era propina proveniente de um contrato de financiamento de R$ 300 milhões entre o BNB e o consórcio Alusa/STN (Sistema de Transmissão do Nordeste). O presidente do banco, Robert Smith, e outros quatro foram denunciados por improbidade administrativa.
Um detalhe interessante do depoimento de Vedoin é que o ex-deputado Carlos Rodrigues chegou a emprestar R$ 300 mil para ajudar no projeto baiano. Os juros sobre esse empréstimo informal custavam R$ 9 mil mensais para a Planam.