Título: Israel ampliará invasão por terra
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Internacional, p. A13

TEL-AVIV - O gabinete de governo israelense aprovou na madrugada de hoje (noite de ontem em Brasília) a ampliação da invasão do Líbano por terra, tornando ainda mais improváveis os esforços diplomáticos para um cessar-fogo esta semana. O plano militar prevê que o Exército cerque vilas no sul do Líbano usadas pelo grupo xiita libanês Hezbollah como base de lançamento de foguetes contra o norte de Israel. Serão convocados mais 15 mil reservistas (igual número foi chamado na semana passada).

Depois do bombardeio que matou 56 civis libaneses no domingo, na maioria, crianças, Israel concordou com a suspensão dos ataques aéreos por 48 horas, segundo os EUA, para permitir a saída de moradores do sul e a chegada de ajuda humanitária à região. Apesar disso, a aviação bombardeou duas localidades no sul libanês.

Um ataque aéreo a um vilarejo matou um soldado libanês e feriu três. Perto da principal passagem na fronteira sírio-libanesa, um avião israelense não pilotado atirou contra três caminhões. Quatro funcionários da aduana libanesa e os três motoristas ficaram feridos.

Na maior parte do Líbano, contudo, o dia foi o mais calmo desde o início do conflito, no dia 12, e as equipes de ajuda humanitária puderam trabalhar (ler abaixo). O Hezbollah também diminuiu sensivelmente seus ataques ao norte israelense, lançando granadas de morteiro contra a cidade de Kiryat Shmona. Ninguém se feriu.

¿A luta continua. Não há cessar-fogo e não haverá nenhum cessar-fogo nos próximos dias¿, disse o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, em pronunciamento à nação antes da decisão do gabinete de expandir a ofensiva. ¿Temos de estar preparados para a dor, lágrimas e sangue.¿

Olmert afirmou que Israel já destruiu o centro de comando e muitos dos mísseis de longo alcance do Hezbollah. E enfatizou que o ataque ao Líbano só terminará quando o Hezbollah parar de disparar foguetes, soltar os dois soldados que capturou no dia 12 - ao invadir território de Israel, iniciando o conflito - e uma força de paz multinacional for enviada à fronteira (do lado libanês). Ao mesmo tempo, foi cancelada reunião marcada para ontem na ONU sobre a formação da força multinacional. Um funcionário da ONU disse que o encontro foi adiado até que ¿haja mais clareza política¿.

Apesar desse cenário nada alentador, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, partiu ontem de Israel - onde se reuniu no domingo com Olmert - dizendo acreditar que um acordo podia ser alcançado ainda esta semana. No fim do dia, mudou o tom: disse que ¿há muito trabalho pela frente¿.

Os EUA se recusam a pedir um cessar-fogo incondicional, pois estão dando tempo a Israel para causar o máximo de danos ao Hezbollah. A missão de Condoleezza era mediar um acordo aceitável pelo Líbano e Israel, mas depois do bombardeio israelense à vila de Qana, no domingo, o primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, se recusou a recebê-la.