Título: Margem de lucro da indústria é a maior em três anos
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Economia & Negócios, p. B1

A margem de lucro líquido da indústria atingiu no primeiro trimestre de 2006 a maior marca em três anos e superou o desempenho do comércio e dos serviços, segundo pesquisa da Serasa. A explicação para o bom desempenho do lucro líquido da indústria em relação aos demais setores é que a queda do dólar reduziu o endividamento das empresas em moeda estrangeira e melhorou o resultado financeiro.

Segundo a pesquisa realizada a partir de 10 mil balanços de empresas dos três setores, indústria, comércio e serviços, a margem de lucro líquido da indústria entre janeiro e março foi de 11% das vendas. A pesquisa não leva em consideração o desempenho da Petrobrás, a maior empresa do País, que, por isso, distorce os resultados.

No mesmo período, o indicador para as empresas do setor de serviços atingiu 9,6% das vendas e o do comércio, 2,3%. Na média dos três setores, a margem de lucro líquido atingiu 8,5% das vendas no primeiro trimestre, o melhor resultado desde 2004.

No primeiro trimestre de 2005, a margem de lucro líquido dos três setores havia sido de 7,7% e, em igual período do ano anterior, 7%. A margem líquida de lucro é o lucro líquido em relação às vendas. É o que realmente sobra para a empresa após todo o processo produtivo e dos acertos financeiros.

"O impacto financeiro melhorou o resultado das companhias", afirma o gerente de Análise de Crédito da Serasa e responsável pela pesquisa, Marcio Torres. Ele diz que os destaques positivos no setor industrial foram os segmentos de papel e celulose e o siderúrgico, com rentabilidade de 22,8% e de 19,3%, respectivamente.

As empresas exportadoras, como de papel e celulose e aço, reduziram o endividamento em dólar, mais que compensando a perda de competitividade das exportações por causa do câmbio, diz Torres. No caso da siderurgia, ele acrescenta, além dos ganhos financeiros, a queda do preço do carvão mineral e do coque, importantes insumos .

Isac Zagury, diretor-financeiro da Aracruz, que exporta 98% da celulose que produz, diz que uma combinação de fatores favoráveis levou a companhia a atingir no primeiro trimestre um lucro líquido de R$ 347,9 milhões, 96% maior do que o obtido no último trimestre de 2005 e 73% superior ao do mesmo período de 2005.

Entre esses fatores estão a alta do preço da celulose no mercado internacional, que subiu 10% em dólar em 2005 e mais 10% este ano. Além disso, atropeladas pelo dólar, as empresas do setor racionalizaram custos de produção para compensar as perdas cambiais e reduziram o endividamento em moeda estrangeira. "O Brasil também tem custo de produção de celulose competitivo: a metade da média mundial", lembra.

Paulo Penido, diretor-financeiro da Usiminas, ressalta que as vantagens competitivas do Brasil na siderurgia contribuem para o desempenho do setor. As siderúrgicas, observa, reduziram o endividamento em dólar por causa do ciclo de alta encerrado no primeiro semestre de 2005. "Em dois anos, nós reduzimos em US$ 1 bilhão o endividamento." Ele discorda da análise de Torres, que aponta a queda dos preços do carvão de coque. "Nossos contratos de compra são de longo prazo."

Já a indústria têxtil apresentou o pior desempenho e teve margem negativa de 6,5%. "O câmbio baixo penaliza duas vezes o setor têxtil", diz Torres. Com o real valorizado, ele perde competitividade nas exportações e é prejudicado pelo aumento das importações.