Título: Indústria planeja aumentar preços
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2006, Economia & Negócios, p. B1

A estabilidade econômica levou a indústria de transformação a atingir este ano o maior nível de uso da capacidade para meses de julho desde 1980: 84,9%, na série sem ajuste sazonal (padronização que elimina variações de determinados períodos).

Sob argumento de que a produção a todo vapor veio seguida de margens de lucro reduzidas, 34% das indústrias planejam elevar preços neste trimestre. É o que mostra a 160ª Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação, referente aos meses de maio a julho, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Iniciada em 1966, a sondagem é repetida a cada três meses com 935 empresas. O levantamento divulgado ontem reflete dados coletados de 29 de junho a 27 de julho. Segundo o coordenador de Análises Conjunturais da FGV, Aloisio Campelo, o nível alto de utilização de capacidade indica confiança do empresariado em investir, em um cenário sem perspectivas de choques. "A estabilidade faz com que a indústria opere sem temer crises."

Os aprimoramentos tecnológicos também contribuíram para o atual cenário. "Com os avanços da tecnologia, quando a indústria quer expandir rapidamente o seu nível de utilização em suas fábricas, ela consegue." Entre os setores com maiores graus de utilização de capacidade, impulsionando o cenário geral da indústria, estão metalurgia (93,4%) e celulose (93,6%) .

Na série com ajuste sazonal, os resultados também são positivos. Há 11 trimestres consecutivos a indústria opera acima da média histórica (81,3%) e, desde janeiro de 2003, o uso da capacidade está acima de 80%.

INFLAÇÃO Mas a sondagem acendeu uma luz de alerta para a inflação. Subiu de 28% para 34% a parcela das empresas pesquisadas que pretendem aumentar preços, em três meses, em relação ao porcentual apurado na pesquisa imediatamente anterior.

Ele lembrou que os últimos resultados de preços no atacado, medidos pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), mostram taxas muito baixas desde o início do ano. "Creio que há um cenário não tão benigno para a inflação no terceiro trimestre. Mas não chega a ser tão maligno."

Na sondagem, outras projeções do empresariado para o próximo trimestre foram bem favoráveis. Do mesmo período de 2005 para este ano, subiu de 24% para 26% a parcela de entrevistados com intenção de fazer mais contratações. E caiu de 15% para 13% o porcentual dos que prevêem demitir.

Porém, Campelo admitiu que houve piora nas respostas em relação ao cenário atual. Caiu de 27% para 16% a parcela dos pesquisados que classificam como boa a situação atual dos negócios. Segundo ele, essa avaliação foi influenciada por fatores passageiros, como as greves na alfândega e dos fiscais sanitários, que prejudicaram a importação de insumos.