Título: Esquema dos sanguessugas para desviar recursos atingiu Educação
Autor: Eugênia Lopes e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2006, Nacional, p. A4

O desvio de recursos do Orçamento por parlamentares para a compra superfaturada de equipamentos e veículos também atingiu o Ministério da Educação. Em depoimento ontem à CPI dos Sanguessugas, o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura e o procurador da República em Mato Grosso Mário Lúcio Avelar revelaram a existência de esquema semelhante ao superfaturamento de ambulâncias no uso de dinheiro do Fundo Nacional de Educação (FNDE) para a compra de veículos para transporte escolar.

Na sessão secreta, o delegado e o procurador confirmaram que o esquema também atingia o Ministério da Ciência e Tecnologia, na compra de veículos destinados a programa de inclusão digital. Até agora, porém ,a PF e o Ministério Público não avançaram nas investigações do esquema nas pastas da Educação e Ciência e Tecnologia.

¿O transporte escolar também faz parte do esquema dos sanguessugas. Ficou evidente que o esquema geral é muito mais abrangente e vai além do superfaturamento de ambulâncias¿, relatou o vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE). De acordo com os relatos à CPI, a máfia das ambulâncias tinha ligação com cerca de 60 parlamentares e de 250 a 300 prefeitos.

¿No prazo de funcionamento da CPI, que são 60 dias, vamos dar um resultado sobre o esquema das ambulâncias. Isso não impede a continuação mais tarde das investigações sobre os outros ministérios¿, disse o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).

CONVOCAÇÕES A comissão deverá votar hoje, em sessão administrativa, requerimentos de convocação de três ex-ministros da Saúde: dois do atual governo - Humberto Costa (PT-PE) e Saraiva Felipe (PMDB-MG) -, além do candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.

¿A idéia é chamar todos os ministros dos últimos cinco anos. Gostaria que viessem, mesmo os inocentes¿, frisou o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP).

Segundo a senadora Heloísa Helena (AL), ex-petista e candidata do PSOL à Presidência, o esquema das ambulâncias, que tinha como eixo central a empresa Planam, cresceu fortemente do governo Lula, movimentando R$ 38,8 milhões. No governo passado, entre 2001 e 2003, teriam sido R$ 3,8 milhões.

MENSALINHO Tanto Jungmann quanto Heloísa estão certos de que o esquema funcionava como uma forma de pagamento de propina para parlamentares votarem a favor de projetos de interesse do Planalto. ¿É um novo mensalão. A Casa Civil selecionava os parlamentares que votavam com o governo e liberava os recursos de suas emendas ao Orçamento¿, acusou Heloísa.

Segundo o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um grupo de parlamentares recebia propina,que variava de R$ 2 mil a R$ 50 mil, das empresas do esquema. ¿Era um mensalinho pago pela Planam.¿ Segundo ele, o esquema tinha forte infiltração na bancada evangélica.

Os parlamentares que participaram da sessão secreta da CPI tiveram a confirmação do envolvimento de pelo menos nove deputados no caso. Os nomes apareceram em documentos exibidos pelo delegado e pelo procurador. Entre eles, João Mendes (PSB-RJ), Elaine Costa (PTB-RJ), Sandra Rosado (PSB-RN) - cujo marido está no livro-caixa da Planam - e o ex-presidente do PL José Carlos Martinez, morto há três anos.