Título: Coréia do Norte testa mísseis
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2006, Internacional, p. A13
A Coréia do Norte lançou na madrugada de hoje um míssil de longo alcance Taepodong-2 (T-2), capaz de alcançar o Alasca, que falhou 35 segundos após ser disparado, informou o governo americano. Segundo o Pentágono, a Coréia do Norte também testou pelo menos outros cinco mísseis menores. "Consideraremos isso uma provocação", declarou o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Stephen Hadley.
A agência japonesa Kyodo disse que os mísseis menores seriam do tipo Rodong, de médio alcance, que caíram no Mar do Japão, a cerca de 500 quilômetros da costa oeste da ilha japonesa de Hokkaido. Mas um funcionário do Pentágono identificou os mísseis como variações do Scud. O Rodong tem um alcance de mil quilômetros e pode atingir o Japão. Já o Scud é um míssil de curto alcance que pode chegar à Coréia do Sul.
O teste não chegou a ser uma surpresa. No mês passado, o Japão e EUA já haviam advertido a Coréia do Norte contra o teste com o Taepodong-2 (capaz de alcançar 6.700 quilômetros e atingir a Costa Oeste americana) depois que satélites captaram imagens indicando o abastecimento de um míssil. A partir desse momento, a pressão sobre as autoridades da Coréia do Norte aumentou. Os EUA e Japão firmaram um acordo para desenvolver um escudo antimísseis e Tóquio concordou com o envio a bases americanas no território japonês de mísseis interceptadores Patriot. Os EUA também colocaram em operação no Pacífico seu sistema de defesa antimíssil.
Apesar de esperado, o teste gerou preocupação. A Coréia do Sul elevou seu nível de alerta e exigiu, assim como o Japão, que a Coréia do Norte volte incondicionalmente às conversações multipartidárias sobre seu programa nuclear. O governo japonês proibiu por seis meses as visitas de um barco norte-coreano e estuda outras sanções econômicas contra o país comunista. A pedido do Japão, o Conselho de Segurança da ONU se reunirá hoje para discutir a crise.
Governada pelo excêntrico ditador Kim Jong-il, a Coréia do Norte, o país mais isolado do mundo, atraiu críticas internacionais em 1998 após testar um míssil de longo alcance, o Taepodong-1, que sobrevoou o norte do Japão. Em 1999, sob forte pressão, declarou uma moratória de testes, que foi quebrada ontem. O dia, desconfiam os americanos, foi escolhido a dedo para coincidir com o lançamento da nave americana Discovery na Flórida.
Muito se discute qual seria o poder de barganha dos EUA e seus aliados contra um país já tão acostumado com a condição de pária. Assim mesmo, hoje a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, falou por telefone com altos funcionários da Coréia do Sul, Japão, Rússia e China (a principal aliada de Kim). Os quatro países e os EUA têm tentado persuadir a Coréia do Norte a desmantelar seu programa de armas nucleares desde 2002, em troca de ajuda e garantias de segurança, mas as conversações estão paralisadas desde novembro.
Um funcionário americano disse que o vice-secretário de Estado Christopher Hill, negociador-chefe dos EUA nas conversações com a Coréia do Norte, preparava-se para viajar para a região. Um alto funcionário norte-coreano disse hoje em Nova York que o convite para Hill visitar Pyongyang ainda estava de pé. O que o governo norte-coreano quer são conversações diretas com os EUA. Na segunda-feira, a mídia estatal norte-coreana acusou os EUA de assediar a Coréia do Norte e prometeu responder a qualquer ataque preventivo "com um ataque aniquilador e uma guerra nuclear". Os EUA ignoraram a ameaça, qualificando-a de "hipotética".