Título: Em Caracas, Lula não quer falar de preço de gás
Autor: Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2006, Economia & Negócios, p. B6

O governo brasileiro não dará um tom político às negociações com a Bolívia sobre o preço do gás natural, apesar das pressões feitas nos últimos dias pelo governo de La Paz. Uma importante fonte do governo brasileiro ligada às negociações disse ontem que, como a Petrobrás é uma empresa listada em bolsa de valores, as negociações sobre o gás terão de ser feitas tecnicamente, dentro dos termos definidos no contrato entre a empresa brasileira e a estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).

Por conta disso, ontem a expectativa no governo era que dificilmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiria a questão do gás em uma reunião paralela com o presidente boliviano, Evo Morales, durante a cerimônia de adesão da Venezuela ao Mercosul, em Caracas.

Embora venha insistindo em politizar a discussão, o governo da Bolívia vem aos poucos se movendo no campo técnico. Segundo esse importante funcionário do governo, no mês passado, a Bolívia apresentou formalmente a solicitação para um reajuste extraordinário do preço do gás, o que é previsto nos termos do contrato. Pelo documento, a proposta de reajuste extraordinário será negociada durante 45 dias.

Depois disso, se não houver acordo, o contrato prevê que a disputa pode ir parar em tribunais internacionais.

A fonte avaliou ainda que o caso do reajuste aceito pelo governo argentino no preço do gás comprado pela Bolívia (de U$$ 3,4 por milhão de BTU para US$ 5 por milhão de BTU) não pode servir de parâmetro para as negociações do Brasil com a Bolívia. Isto, porque a Argentina tem uma produção própria de cerca de 140 milhões de metros cúbicos diários de gás natural e importa apenas 5,5 milhões de metros cúbicos diários da Bolívia, enquanto o Brasil importa da Bolívia, atualmente, cerca de metade do gás natural que é consumido no País.

Mas na noite de segunda-feira, as agências internacionais noticiaram que Evo deveria falar sobre o assunto durante encontro programado com o presidente Lula - o encontro foi confirmado pelo ministro boliviano de Hidrocarbunetos, Andrés Soliz Rada. Ainda segundo as agências, o presidente boliviano vai pedir que o Brasil pague US$ 8 por milhão de BTU (unidade de medida do combustível) de gás importado da Bolívia. Hoje o preço é de US$ 3,93 por milhão de BTU.