Título: Alvo do PCC era PSDB, diz Furukawa
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2006, Metrópole, p. C3

O ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa afirmou ontem que a onda de ataques promovida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo e em mais quatro Estados foi uma ação política para atingir a candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República. Em depoimento à CPI do Tráfico de Armas, ele disse que o viés político foi detectado pelos serviços de inteligência da polícia.

Para Furukawa, a candidatura de Alckmin criou o temor de que o governo agisse com mais rigor contra a facção. Ele negou que tenha negociado com os bandidos para pôr fim ao banho de sangue e acusou o secretário de Segurança Pública, Saulo Abreu, de ter desprezado os alertas sobre o levante e de não ter adotado as providências sugeridas para impedi-lo.

"Havia um plano de promover rebeliões para dificultar a candidatura de Alckmin", disse. Segundo ele, os detentos estavam insatisfeitos com medidas como o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) e a transferência dos líderes do PCC para presídios de segurança máxima. Ele atribuiu o caos no sistema ao aumento da população carcerária, de 53 mil, em 1999, quando assumiu a secretaria, para 105 mil, há um mês.

Os integrantes da CPI ouviram o ex-secretário com desconfiança. "É no mínimo debochar da inteligência e da consciência da sociedade", disse o relator da comissão, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), para quem o ex-secretário estaria resumindo a discussão da segurança à ação eleitoral.

Pimenta disse, ainda, que o Estado "curvou a espinha e fez o que os presos mandaram". Ele lembrou que a organização não-governamental Nova Ordem intermediou contato do líder do PCC Marcos Camacho, o Marcola, com bandidos fora do presídio para pôr fim à violência, com a chancela de Furukawa. "Não há dúvida de que houve negociação", disse o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE). A CPI foi prorrogada por 60 dias.

Em São Paulo, o ex-governador Alckmin confirmou ontem as informações de Furukawa sobre a existência de gravações que apontam ação política nos ataques do PCC. "Que tem gravações comprovando, tem. Mas eu não ouvi, não tenho detalhes", disse. Ele afirmou ainda que há outras gravações com ameaças de natureza pessoal e familiar contra ele, feitas na época da criação do RDD e da inauguração do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes.

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, culpou ontem o governo federal pela crise no sistema prisional do Estado e disse que o problema tem de ser enfrentado com o Congresso e o Judiciário, assim como as causas das rebeliões e ataques, entre elas, a entrada de armas e drogas no País.