Título: 'Mexer com bandido não dá certo', diz Lula
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A4

A tranqüilidade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha procurando ostentar na campanha pela reeleição, graças à dianteira nas pesquisas sobre intenção de voto, está ameaçada. Ontem, em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, ele se mostrou irritado e pouco à vontade com as perguntas dos jornalistas, que insistiram no escândalo do dossiê sobre os tucanos, martelando as dúvidas que envolvem o candidato e o PT. Ao final, ele reclamou, dizendo que esperava ter recebido os jornalistas para discutir o programa de governo.

Com ar grave, Lula procurou mostrar firmeza na crítica ao escândalo, que classificou como 'imoral', e afirmou que está interessado na 'busca da verdade'. Classificou de 'insanas' as pessoas que pensaram que ajudariam com o dossiê e disse que se deram mal porque negociaram com bandidos: 'Mexer com bandido não dá certo em lugar nenhum do mundo.'

Ao mesmo tempo o candidato deixou claro que sua maior preocupação é evitar que, às vésperas do primeiro turno, as denúncias atrapalhem a campanha. Explicando a decisão de desligar o ex-ministro Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha, disse: 'Quando eu afasto um companheiro como o Ricardo Berzoini não é porque eu acho que ele tem culpa ou está envolvido. É porque eu não posso, faltando dez dias de campanha, ter um coordenador que vai passar dez dias respondendo pelo dossiê. Tenho de colocar alguém que coordene a campanha, que faça a campanha.'

Indagado sobre a situação financeira do PT, que estava endividado e hoje dispõe de recursos para a campanha, disse: 'Não gosto de insinuações nem para meus adversários e muito menos para mim.'

A seguir, alguns dos principais trechos da entrevista.

A VERDADE

'A mim o que interessa é a mais absoluta busca da verdade. Se tem uma coisa que as pessoas, mesmo que discordem politicamente de mim, sabem é que o meu comportamento na política é impecável, não por uma eleição, por todas de que participei, em situações, inclusive, muito desfavoráveis, nas quais tive comportamento ético.'

USO DE DOSSIÊS

'Acho muito abominável e tenho demonstrado isso ao longo da minha vida política.'

O CONTEÚDO

'Quero saber o que ele tem, porque valia tanto, porque tantas pessoas se envolveram numa coisa que para mim não tem nenhum sentido. Esse dossiê, divulgado ou não, não me ajuda em um milímetro.'

INSANIDADE

'As pessoas são insanas quando têm esse comportamento político. Estou numa situação altamente confortável na campanha política e faltam dez dias para acabar a campanha. Não sei por que alguém haveria de querer um dossiê contra o governo de São Paulo, ou seja: não era nem contra o Alckmin.'

MERCADANTE E O DOSSIÊ

'Eu coloco a mão no fogo. Duvido que ele concordasse (referindo-se a Aloizio Mercadante, que concorre ao governo de São Paulo). Agora, meu caro, um cidadão está lá trabalhando e alguém fala: 'olha tem uma notícia que pode abalar o mundo'. Então a pessoa deve ter pensado: 'eu vou descobrir ouro puro e vou ser famoso'. Quebrou a cara, porque, quando o bandido tenta procurar você para alguma coisa, tem de desconfiar.'

ASSESSORES ENVOLVIDOS

'É grave. É lógico que é grave o fato de a pessoa fazer a investigação da vida do outro e, sobretudo, pagar.'

COMPANHEIROS AFASTADOS

'A pessoa cometeu um erro, pequeno ou grande, eu afasto. A partir daí é o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça que vão tomar conta da situação. Não esperem de mim que eu execre alguém antes de ele ser julgado. E é bom que seja assim, porque o que aconteceu com esses meninos, hoje, pode acontecer amanhã com qualquer pessoa acusada.'

INVESTIGAÇÕES

'No meu governo a gente não joga para baixo do tapete. Por isso nós reequipamos a PF. Por isso o MP tem independência como jamais teve.'