Título: Parte do dinheiro entrou ilegalmente no País
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A7

A Polícia Federal encontrou indícios de que parte dos dólares encontrados com Gedimar Passos e Valdebran Padilha entrou no País ilegalmente. Dólares apreendidos com os dois petistas no Hotel Ibis em São Paulo fazem parte de um lote de R$ 25 milhões fabricado em abril deste ano pelo Bureau of Engraving and Printing (BEP), órgão dos EUA equivalente à Casa da Moeda. A Lei Eleitoral proíbe que partidos e candidatos recebam direta ou indiretamente dinheiro de entidade ou governo estrangeiro.

Segundo reportagem exibida pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, o lote foi distribuído para bancos de Nova York e do Estado da Flórida. As informações foram passadas à Polícia Federal por autoridades americanas, com base no número de série das notas.

Os números se referem a dois maços de US$ 10 mil cada um, de um total de US$ 248,8 mil encontrados com os dois petistas. Com Valdebran, foram apreendidos US$ 109,8 mil e R$ 758 mil. Gedimar tinha US$ 139 mil e mais R$ 410 mil. O valor total chega a R$ 1,75 milhão.

Os maços de dólares estavam identificados com tarjas do Bureau of Engraving and Printing e as iniciais 'BEP'. De acordo com a PF, pela aparência das notas, elas ainda não haviam circulado e, pelos números de séries rastreados, não correspondem a dólares registrados no Banco Central. Isso significa que pelo menos parte do dinheiro apreendido entrou ilegalmente no País.

Entre o material apreendido também estão registros de somas feitas em máquina de calcular, onde se lê: '119 - Campo Grande'. E com dificuldade se pode enxergar um nome: Claudio Marcio S. Silva. E as palavras: 'arrecadação/caixa Caxias - 118'.

De uma relação de passageiros veio outra informação: a lista é de um vôo de 14 de setembro, o dia em que Gedimar diz que recebeu o dinheiro para pagar o dossiê. Naquele dia, um dos ocupantes do avião que saiu de Brasília para São Paulo era Jorge Lorenzetti, apontado como um dos principais nomes em torno da negociata.

RISCO

Se as apurações comprovarem a origem externa do dinheiro, novos problemas poderão surgir para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Opositores teriam, ao menos na teoria, a oportunidade de questionar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma eventual reeleição do presidente.

No entanto, será difícil comprovar que o dinheiro trazido do exterior tinha como destino os cofres da campanha de Lula - e, para cassar o diploma de um político eleito, é necessário que haja provas dessa ligação. Especialistas em direito eleitoral afirmam, porém, que as suspeitas produzidas pelo escândalo do dossiê Vedoin podem levar à abertura de novas investigações para verificar se outras remessas de dólares beneficiaram a campanha petista.

Além de vedar a doação de dinheiro por entidade ou governo estrangeiro, a legislação eleitoral proíbe os partidos e os candidatos de receberem recursos de órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos provenientes do poder público, entidade de utilidade pública, entidade de classe ou sindical, entre outros.