Título: Nixon ganhou eleição, mas caiu
Autor: João Domingos, , Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A8

Um presidente é candidato à reeleição, tem enorme vantagem nas pesquisas e funcionários menores de seu partido se metem em uma operação irregular para buscar provas contra os adversários. A polícia descobre, o caso torna-se um escândalo nacional, o chefe da campanha presidencial é demitido, outros auxiliares políticos do governo vão caindo.

Foi essa seqüência de fatos - a mesmíssima do caso do dossiê Vedoin - que marcou o início do mais importante escândalo político da vida americana, o caso Watergate, entre 1972 e 1974. Lá, Nixon ganhou fácil as eleições (em 49 dos 50 Estados dos EUA), mas a crise foi em frente. Enfraqueceu-o e o levou à renúncia em 8 de agosto de 1974.

A história começou quando dois assessores do republicano Nixon, John Ehrlichman e John Dean, mandaram alguns ex-agentes da CIA invadir o Hotel Watergate, de Washington, para buscar coisas comprometedoras contra o Partido Democrata. Assim como Berzoini no Brasil, o chefe da campanha de Nixon, John Mitchell, foi afastado por ele quando a situação se agravou. Um 'muro de Berlim' formado em torno do presidente, sustentado por Ehrlichman e Dean, desabou e os dois foram para a rua.

'Mas não é a mesma coisa', garante Norman Gall, jornalista e diretor do Instituto Fernand Braudel, em São Paulo. Ele afirma que Nixon nem de longe tem o carisma de Lula. 'Era uma figura antipática, pouquíssimos gostavam dele', conta Gall. 'Se tivesse (o carisma de Lula), talvez não sofresse impeachment.'

Outra diferença, lembra ele, está no Congresso. 'Naqueles tempos o Congresso americano tinha força e respeito para levar adiante o julgamento de um presidente em uma comissão do Senado. Isso está longe de acontecer no Congresso brasileiro.' Por fim, na estrutura jurídica brasileira não há como nomear um procurador especial - como se fez lá - com amplos poderes para conduzir uma investigação tão importante. GABRIEL MANZANO FILHO