Título: Garcia: 'Quem vai votar não é a Bolsa de Valores'
Autor: Wilson Tosta, Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A8

O novo coordenador da campanha do presidente Lula, Marco Aurélio Garcia, afirmou não estar preocupado com a possibilidade de que o caso do dossiê Vedoin tenha repercussão negativa na campanha. Para ele, a maior parte do povo já 'fez sua opção', que seria reeleger Lula. 'Quem vai votar nas eleições presidenciais não é a Bolsa de Valores, mas os 126 milhões de eleitores', insistiu ontem, ao responder a perguntas sobre os possíveis efeitos da crise.

'Independentemente do trabalho que a oposição possa fazer - e a oposição está no seu papel, de fazer marola -, o eleitorado tem discernimento', declarou, garantindo que nada mudará na campanha. 'Temos de parar com a questão de dizer que os eleitores brasileiros são imbecis, que não entendem, que se deixaram comprar pelo Bolsa-Família. Isso é uma forma de menosprezar o povo. O povo está muito consciente. Vai fazer sua opção, em grande parte já fez, e estamos muito tranqüilos com o resultado eleitoral.'

Antes da entrevista, ele participou do Fórum Especial 2006 'Projeto de Brasil - opções de país e opções de desenvolvimento' no Instituto Nacional de Altos Estudos, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lá, Garcia fez críticas à política econômica e propôs elevar o crescimento para 5% ou 6%. E defendeu o Bolsa-Família da acusação de assistencialismo: 'Proponham concretamente para aqueles que recebem essa 'caridade': esperem 10 anos que vamos formular políticas educacionais e de qualquer natureza para resolver o problema de vocês.'

RISCOS

No fórum, as críticas ao governo foram constantes. João Carlos de Souza Meirelles, coordenador do programa do candidato tucano a presidente, Geraldo Alckmin, defendeu o combate à corrupção como prioridade. 'Ou se tomam providências quanto a isso ou não há condições.' Ele contou que o programa de Alckmin prevê 'garantir um câmbio competitivo' para as exportações, a intenção de reduzir os juros a partir de 'uma profunda reforma fiscal com redução de gastos do governo, abrindo espaço para o investimento' e medidas para atrair investimentos privados para a infra-estrutura.

Cesar Benjamin, vice da candidata do PSOL, Heloísa Helena, se confessou 'angustiado'. 'Estamos nos transformando num País de vontade fraca.' O Brasil, para ele, só tem soluções de curto prazo, como o Bolsa-Família, para problemas que são estratégicos. O candidato do PDT, Cristovam Buarque insistiu na tese de que se o País não investir pesadamente em educação, viverá uma crise social ou uma ditadura até 2020.

Para o cientista político Bolívar Lamounier, há o risco de que em 15 anos o Brasil seja um país tomado pela corrupção, pela desagregação das instituições e pelo crime organizado. Lamounier disse que há um problema de seleção na política, que atrai cada vez menos os talentosos e este é um dos maiores entraves ao desenvolvimento. 'Está aumentando o número dos que querem viver da política, em detrimento dos que querem viver para a política.' Ele considera fundamental uma reforma política.