Título: Na despedida, Berzoini fala em 'onda de histeria' da oposição
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A9

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), ex-coordenador da campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, despediu-se de seu cargo com ataques aos meios de comunicação e aos partidos de oposição. Em carta enviada aos militantes do PT, Berzoini afirmou que 'uma onda de histeria e descontrole toma conta da oposição tucano-pefelista e seus aliados nos meios de comunicação'.

Berzoini, que admitiu na terça-feira saber que os dirigentes da campanha Jorge Lorenzetti e Oswaldo Bargas se encontrariam com um repórter da revista Época, disse que tanto os meios de comunicação quanto a oposição 'estranhamente repudiam qualquer investigação sobre o mérito das denúncias'.

A carta foi escrita por Berzoini anteontem à noite, em sua última visita ao comitê de campanha, depois de ter sido dispensado por Lula. No mesmo comunicado, avisou aos petistas que estava sendo substituído por Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência.

Berzoini, que passou o dia em sua casa, no Lago Sul de Brasília, disse que a decisão de sair foi dele, em face 'à conjuntura que se instalou a partir dos fatos ocorridos na sexta-feira'. 'Condenamos com veemência qualquer ilegalidade para obtenção de informações', destacou. E afirmou que ele 'pessoalmente' e o PT 'como instituição' refutam toda e qualquer tentativa de envolver o PT e Lula com a montagem do dossiê.

COMANDO

A discussão sobre a permanência de Berzoini na presidência do PT deverá ficar para depois das eleições. Representantes do partido concordam que esse é um debate que deve ser feito em um ambiente mais tranqüilo, de forma a evitar inclusive desgaste adicional ao partido e à campanha. Mesmo aqueles que querem explicações de Berzoini sobre sua participação no episódio acham o momento inadequado para isso.

'Convocar reunião do Diretório Nacional ou da executiva antes do dia 1º seria um tiro no pé', destacou o secretário de Comunicação do PT, Francisco Campos. Segundo ele, a permanência de Berzoini dependerá de sua vontade e de uma avaliação mais aprofundada pela legenda.

O deputado Raul Pont (RS), licenciado do cargo de secretário-geral para disputar as eleições, seguiu a mesma linha. 'Vamos ter que nos sentar com ele em condições melhores, pois agora estamos todos com as agendas muito complicadas', disse.

Dentro do PT, há quem defenda de imediato a permanência de Berzoini. O coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, Gleber Naime, insistiu em que não está sequer colocada a possibilidade de mudança na direção partidária. 'Não existe dúvida sobre a permanência dele.' Mas, reservadamente, há quem afirme que, diante do desgaste, uma mudança na direção se faz indispensável.