Título: Entidade de petista recebeu R$ 4 mi da Fundação do BB
Autor: Sérgio Gobetti Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A11

A Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (Unitrabalho), ligada ao petista Jorge Lorenzetti - churrasqueiro preferido do presidente Lula -, recebeu R$ 4,28 milhões por intermédio da Fundação Banco do Brasil, além dos R$ 18,5 milhões do Orçamento da União - informação contestada pelo ministro Luiz Marinho (Trabalho).

De acordo com informações obtidas pelo Estado, Lorenzetti operava a partir do escritório da fundação em Brasília, no Edifício Number One, durante os dois primeiros anos do governo Lula, quando foi concebido o atual portfólio de projetos com foco em 'geração de trabalho e renda'.

Ex-assessor de Risco e Mídia da campanha de Lula, Lorenzetti se afastou nesta semana de sua função junto com outros petistas que participaram do esquema para comprar dossiê que envolveria candidatos do PSDB com a máfia dos sanguessugas.

No Banco do Brasil, Lorenzetti tinha dois interlocutores: o diretor de Gestão de Risco, Expedito Afonso Veloso, apontado como o homem que preparou o dossiê contra os tucanos e negociou sua divulgação com o empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia das ambulâncias; e o presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena.

Além de petistas, Expedito e Jacques Pena integram uma espécie de 'irmandade mineira' no banco e foram indicados para seus cargos por outro conterrâneo do PT, o vice-presidente de Crédito e Gestão de Risco, Adésio Lima. Expedito pediu anteontem afastamento da função.

A Fundação BB confirmou que mantém convênios com a Unitrabalho, mas diz que todos os projetos estão andando normalmente, são acompanhados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e contam com a parceria de universidades, 'com o objetivo de gerar trabalho e renda'. A presença freqüente de Lorenzetti na sede da fundação teria ocorrido quando era coordenador de Relações Internacionais da Unitrabalho.

A reportagem do Estado buscou esclarecimentos oficiais com a entidade, mas o máximo que conseguiu foi uma conversa por telefone com um de seus dirigentes. Ele informou que Lorenzetti se afastou há mais de um ano da Unitrabalho e não era responsável por convênios. Em nota, anteontem, a entidade diz que 'é uma instituição acadêmica, não vinculada a quaisquer partidos políticos e se pauta pela ética e transparência'.

Ao todo, a Unitrabalho tem R$ 5,38 milhões contratados com a Fundação Banco do Brasil, dos quais R$ 1,1 milhão ainda não teria sido liberado. Desde a demissão de Expedito, a cúpula do BB passou a monitorar de perto a movimentação financeira da fundação, cujos pagamentos não passam pelo Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).

A entidade mantém gordos convênios com o Ministério do Trabalho e com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Do Ministério do Trabalho, recebeu R$ 3,4 milhões no dia 14, véspera da prisão dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, que carregavam R$ 1,75 milhão que seria dado a Vedoin em troca do dossiê.