Título: Tucano bate pesado e mostra pilha de dinheiro falso na TV
Autor: Patrícia Villalba
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Nacional, p. A15

Enquanto a Polícia Federal não exibe o R$ 1,75 milhão apreendido com os petistas que negociavam o dossiê Vedoin, a campanha tucana decidiu marcar no imaginário do eleitor a dimensão dessa montanha de dinheiro. Pilhas de notas falsas ilustraram ontem à noite o horário eleitoral do candidato Geraldo Alckmin, o programa mais agressivo até agora. Mais que explorar o episódio e fazê-lo render o máximo de dividendos eleitorais, os tucanos tentaram explicar didaticamente o complicado escândalo à parcela menos informada dos eleitores.

Em clima de thriller policial, o programa reconstituiu em detalhes o que já se sabe sobre o episódio. O repórter do programa tucano foi até o quarto do Hotel Ibis que fica na frente do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde ocorreria a transação. Foi lá que a PF recolheu o R$ 1,75 milhão e prendeu, na sexta-feira, os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha, que estariam negociando a compra do dossiê.

Em tom professoral e com a ajuda de um infográfico que exibiu o interior do Palácio do Planalto, o programa mostrou que o ex-assessor da Presidência Freud Godoy, um dos acusados de envolvimento na denúncia, trabalhava bem próximo do gabinete de Lula. Ao explicar quem é quem no caso, o programa tucano pôs o presidente no centro do escândalo, ligando as peças-chave da crise a ele. 'Que presidente é esse que diz que não viu nada?', questionou Alckmin. 'O assessor especial está envolvido, auxiliares de Lula estão envolvidos, o presidente do PT está envolvido.'

A artilharia tucana não ficou restrita ao presente e foi buscar esqueletos do governo Lula que ainda não esfriaram por completo. Foram exibidas imagens do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz cobrando propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira, do ex-chefe de Administração dos Correios Maurício Marinho também recebendo dinheiro ilícito e do famoso caso envolvendo José Adalberto Vieira, o assessor do deputado José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão do então presidente do PT José Genoino, preso no Aeroporto de Congonhas com US$ 100 mil na cueca e R$ 200 mil em uma mala.

RESPOSTA

O programa exibido logo em seguida ao dos tucanos foi o do PT. 'Nunca tentei varrer o lixo para debaixo do tapete', pareceu responder o presidente Lula. O PT quis sair da defensiva e pôs o próprio candidato, numa mensagem de mais de quatro minutos, para dar sua explicação sobre o caso. Sem novos elementos, porém.

O presidente voltou a dizer que não teria motivos para recorrer a dossiês contra seus adversários, já que ele é líder nas pesquisas de intenção de voto. Ele insinuou, mais uma vez, que a denúncia tem a ver com sua situação confortável nas pesquisas e com a proximidade da eleição. 'Não poderia admitir que alguns membros da minha equipe de campanha, aparentemente para atingir o candidato do PSDB ao governo de São Paulo (José Serra), participassem de uma operação obscura envolvendo a compra de dossiês. Nunca utilizei dossiês contra meus adversários', disse.

Lula frisou ainda que determinou o 'afastamento de todos os envolvidos' no episódio - não sem deixar de amenizar a participação do ex-coordenador de sua campanha, deputado Ricardo Berzoini, como fez em outros tempos com seus então ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Antonio Palocci, da Fazenda. 'Decidi trocar o coordenador da minha campanha mesmo sabendo que o deputado Ricardo Berzoini não esteve diretamente envolvido nesses atos lamentáveis', afirmou.

Ele repetiu ainda uma frase que se tornou recorrente. 'Nunca se apurou e se puniu o crime como agora. E eu não me incomodo que isso possa dar a impressão de que há mais corrupção no País.'