Título: Países da Europa Oriental viram pesadelo para União Européia
Autor: Gilles Lapouge
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Internacional, p. A19
A violência irrompeu em Budapeste, capital da Hungria. O alvo dos manifestantes é o primeiro-ministro socialista Ferenc Gyurcsany (antigo apparatchik comunista), execrado pela multidão porque mentiu, falsificando o balanço econômico do seu governo. Mas, além do governo socialista de Gyurcsany, há uma outra vítima, bem mais importante, atingida pelas 'balas perdidas' dessas manifestações: a União Européia (UE).
A Hungria é um dos oito países da Europa Oriental acolhidos pela UE. Entre os novos membros foi o país que mais brilhantemente preencheu os 'critérios' exigidos por Bruxelas (sede da União Européia) para merecer seu 'bilhete de entrada'.
Infelizmente, uma vez instalada na UE, a Hungria relaxou. Abandonou a vigilância. O país contabilizou o déficit orçamentário mais alto da Europa, ou seja, 10,1% do seu PIB, em vez dos 3% exigidos pela União Européia. Em Bruxelas, a reprimenda foi forte. O primeiro-ministro se fechou nas suas mentiras. E os húngaros foram às ruas.
A Hungria não é um caso isolado. Os países da Europa Oriental que entraram para a União Européia têm sido uma dor de cabeça para a UE . E de fato, esses novos membros, sejam de esquerda (caso da Hungria) ou de direita (a Polônia), são todos barcos à deriva, um pouco insensatos, que angustiam os eminentes funcionários da UE.
A Polônia dos irmãos Kaczynski (que pertencem à direita radical e estão aliados a partidos ainda mais extremistas), apesar de seu despertar econômico ter sido brilhante no fim do comunismo, não tem interesse pela economia. Prefere mobilizar suas energias para reviver as chamas do anti-semitismo ou exigir o restabelecimento da pena de morte (o que contraria os princípios de Bruxelas).
O chefe do governo eslovaco aliou-se à extrema direita antieuropéia. A República Checa está paralisada depois de uma eleição sem vencedor, em junho. A Lituânia precisou formar um governo de coalizão bastante excêntrico.
O marasmo, as ambigüidades, são constantes na maior parte dos novos membros da UE. Os únicos bons alunos são a Romênia e a Bulgária que estão se empenhando realmente para satisfazer Bruxelas, embora por uma razão: esses dois países ainda não estão dentro da União. Sua entrada está prevista para janeiro e, com essa expectativa, mostram um zelo até exagerado.
Há alguns anos, havia uma oposição entre os países da 'nova Europa' (dinâmicos e cheios de esperança) e os países da 'velha Europa' - a Europa Ocidental -, taxados de decadentes. Hoje a velha Europa resiste e a nova Europa mostra sinais de fragilidade. Mas resulta daí que é a UE que acaba decaindo. E, sobretudo, percebe-se que essa ampliação, forçada e às cegas, foi uma idéia questionável. A Europa dos 15 já não era muito divertida. Mas a Europa dos 25 é francamente desmoralizadora.