Título: Venezuela pretende comprar equipamentos militares do Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Internacional, p. A20

A Venezuela poderá comprar equipamentos militares do Brasil para proteger suas fronteiras, principalmente com a Colômbia. O Estado apurou que, na quarta-feira, representantes do governo de Hugo Chávez se reuniram com oficiais do Ministério da Defesa na sede da ONU em Genebra. O governo se comprometeu a procurar empresas brasileiras que possam vender os equipamentos pedidos por Caracas e enviará uma resposta nas próximas semanas.

A Venezuela é um dos países que ainda mantêm minas terrestres em alguns pontos de suas fronteiras. Mas, como assinou um tratado internacional nos anos 90 que obriga que essas armas sejam retiradas, está em busca de um novo mecanismo para garantir a proteção de suas fronteiras. Segundo informou um diplomata venezuelano ao Estado, as opções seriam sistemas de alarme que possam ser colocados ao ar livre, como laser, sistemas de monitoramento ou raios infravermelhos que possam detectar movimento. Um orçamento para a compra, porém, ainda não teria sido informado ao Brasil.

O governo do Canadá vem propondo a venda de sistemas parecidos. Mas os venezuelanos confessaram aos representantes brasileiros que não querem comprar equipamentos de países aliados dos Estados Unidos e prefeririam um entendimento com o Brasil ou outro país.

Segundo Caracas, reuniões ainda ocorrerão com um país europeu e com a China para analisar outros mecanismos de controle das fronteiras. Segundo militares do Ministério da Defesa, a reunião com a Venezuela nesta semana teve um caráter puramente comercial.

A Venezuela espalhou cerca de mil minas terrestres em seis pontos da fronteira com a Colômbia entre 1995 e 1997, depois que bases militares suas foram atacadas por guerrilheiros colombianos em território venezuelano.

'Depois disso decidimos nos proteger mais nessa região', explicou um diplomata de Caracas. A tensão bilateral cresceu em 2004, quando o 'chanceler' do grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Granda, foi seqüestrado por venezuelanos em Caracas e levado para uma cidade colombiana na fronteira, Cúcuta, onde foi entregue às autoridades da Colômbia - que ofereciam uma recompensa por sua captura. O governo Chávez condenou duramente o que classificou de 'violação da soberania venezuelana' e suspendeu acordos comerciais bilaterais. As relações comerciais foram restauradas meses depois, após um encontro entre Chávez e o presidente colombiano, Álvaro Uribe, para reduzir a tensão.

As minas venezuelanas estão espalhadas nas localidades de Atabapo, Cararabo, Guafitas, Isla Vapor, Puerto Páez e Río Arauca. Essas, portanto, seriam as localidades que receberiam o novo sistema de alarme.

Desde 1999, porém, Caracas promete que iniciará um plano para retirar essas minas, o que até agora não ocorreu. 'Estamos preocupados com a Venezuela. Por que é que até agora não fizeram nada em sete anos?', questiona Stuart Maflen, da Campanha Internacional para Banir Minas.

A previsão inicial dos venezuelanos era de retirar as minas a partir de 2002. Mas a entidade responsável por monitorar a remoção dessas armas afirma que a cada ano o governo utiliza um argumento para explicar por que nada é feito. Em 2003, a justificativa era de que o país não tinha equipamentos especializados para retirar as minas do solo. No ano passado, a justificativa era de que precisavam substituir as minas por outro sistema de proteção de fronteiras. Neste ano, o problema seria a falta de treinamento dos militares.

Outro problema é que, nos últimos dois anos, a Venezuela não deu informações sobre quantas minas ela tem. Por outro lado, os militares venezuelanos realizaram treinamentos sobre como espalhar minas. Caracas garante que esses treinamentos foram apenas de rotina.