Título: Golpe endurece e Tailândia vive ditadura militar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Internacional, p. A21

Os líderes do golpe militar na Tailândia ampliaram ontem o controle autoritário sobre o país. A junta que assumiu o governo na terça-feira aprofundou o controle sobre a imprensa, atribuiu-se o direito de legislar, proibiu atividades políticas e prendeu ou afastou pessoas próximas ao primeiro-ministro deposto, Thaksin Shinawatra.

Shinawatra - que estava em Nova York para a Assembléia-Geral das Nações Unidas quando o golpe ocorreu - pediu ontem, em um comunicado, a realização de eleições rapidamente e que, 'pelo bem de nosso rei e de nosso país', sejam respeitados os princípios da democracia . Segundo alguns líderes militares, Shinawatra pode voltar ao país. O chefe da polícia, porém, deixou claro que ele responderá a processos. No poder desde 2001, o primeiro-ministro deposto é acusado de corrupção e criticado pela forma como lida com a rebelião muçulmana no sul tailandês.

Os EUA anunciaram ontem que, por causa do golpe, estão revisando os acordos que mantêm com a Tailândia. Segundo dados do Departamento de Estado, os EUA enviariam US$ 14 milhões de ajuda direta ao país neste ano. Desse total, US$ 4 milhões seriam para ajuda militar. O porta-voz do departamento, Tom Casey, disse que parte dessa ajuda deve ser congelada.

Apesar do golpe, o dia de ontem foi de relativa calma na Tailândia. O número de soldados e tanques nas ruas de Bangcoc diminuiu e o país voltou à rotina. Na quarta-feira, foi decretado feriado nacional.

O Conselho Administrativo para a Reforma - órgão criado pelos militares para comandar o país e comandado pelo general Sondhi Boonyaratklin, designado primeiro-ministro interino - informou ontem em um comunicado que 'os partidos políticos atuais não serão dissolvidos, mas não podem fazer nenhuma atividade até novas instruções'. Além disso, está proibida a criação de outros partidos no país. Seguem proibidas as reuniões públicas com mais de cinco pessoas.

Os golpistas destituíram o diretor dos serviços de inteligência e o subchefe da polícia nacional, além de outros dois altos funcionários. Dois ex-ministros próximos a Shinawatra foram interrogados. Ontem, o jornal tailandês A Nação reproduziu uma lista com centenas de nomes de políticos e empresários que estariam sujeitos a investigações.

A imprensa também foi alvo do cerco dos militares. Donos de meios de comunicação foram chamados para uma reunião com líderes da junta militar. Durante o encontro, a junta informou que a mídia tailandesa estava proibida de disseminar notícias e comentários que, na opinião dos militares, possam ser uma ameaça para a segurança nacional e a monarquia. O Ministério da Informação divulgou nota exigindo o cumprimento da ordem para 'restringir, frear, controlar e destruir a informação que poderia afetar a monarquia'.

Não será permitida também a divulgação de material que 'infrinja a reforma democrática' na Tailândia. O conselho que comanda agora o país prometeu na quarta-feira 'devolver o poder ao povo' em duas semanas - sem dar detalhes de como fará isso - e anunciou eleições gerais para outubro de 2007.

O rei do país, Bhumibol Adulyadej, seguiu ontem sem comentar publicamente a situação política do país. Foi divulgada uma imagem, porém, em que ele se encontra, no dia do golpe, com os líderes da rebelião. É improvável, segundo analistas, que qualquer golpe na Tailândia tenha sucesso sem o apoio, pelo menos tácito, do carismático rei.

A aliança anti-Thaksin - reunião de partidos e setores do país que pediam a queda do primeiro-ministro - pediu ontem que se processe Shinawatra e seus aliados e familiares suspeitos de envolvimento em casos de corrupção. Para Sondhi Limthongkul, um dos líderes do grupo, 'o golpe foi bem-vindo'. Além disso, Limthongkul pediu reformas políticas e o congelamento dos bens de Shinawatra e seus aliados no país.

PERDAS

Após o tsunami de dezembro de 2004, a gripe aviária e uma insurgência muçulmana sangrenta, o golpe militar foi outro revés para o setor turístico da Tailândia. Muitas reservas foram canceladas, apesar de a deposição de Shinawatra ter sido feita sem ser disparado nenhum tiro.

No ano passado, 11,6 milhões de turistas visitaram o país, e este ano era esperado um número ainda maior. Apesar de alguns dos turistas tirarem fotos ao lado dos tanques, aparentemente o golpe assustou muitos outros. 'Para a cidade de Bangcoc, estamos esperando perdas de centenas de milhares de dólares', disse Richard Brouwer, operador-chefe da Diethelm Travel Asia. Na internet, o total de reservas da empresa caiu 20%, segundo Brouwer.