Título: Cenário pode afugentar investidor, diz BC
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Economia, p. B1
A crise política poderá postergar o ingresso de investimentos estrangeiros no Brasil, admitiu ontem o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes. No entanto, segundo avaliou, ela não será decisiva a ponto de levar o investidor a cancelar seus planos. 'Ele pode até fazer uma parada para estudar o cenário, mas não vai deixar de fazer investimentos', comentou. 'O investidor sempre olha para o longo prazo e quer estar bem em um País com expectativa de crescimento e estabilidade', afirmou.
A principal preocupação dos investidores, no momento, é quanto à possibilidade de a disputa no mundo político afetar a agenda de reformas econômicas que precisam ser apreciadas pelo Congresso Nacional.
O primeiro levantamento parcial de setembro sobre o ingresso de investimentos estrangeiros mostra que a crise não provocou reflexos negativos até agora. Nos primeiros 19 dias do mês, houve um ingresso de aproximadamente US$ 900 milhões.
A expectativa, de acordo com Altamir Lopes, é de que entrem mais US$ 400 milhões até o fim do mês, elevando o total a US$ 1,3 bilhão. Seria um valor maior que o de agosto, que foi US$ 1,182 bilhão e ficou abaixo da expectativa, que era de US$ 1,5 bilhão.
Se a previsão de setembro se concretizar, o total de investimentos estrangeiros diretos recebidos neste ano alcançará US$ 11,4 bilhões. Nesse caso, seria necessário receber novos investimentos de US$ 2,2 bilhões ao mês para atingir a projeção do ano, que é de US$ 18 bilhões.
Na opinião de operadores do mercado financeiro, a projeção do BC é bastante ambiciosa. Para a maioria, o fluxo de investimento direto neste ano deverá variar entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões.
'Com certeza, há um crescimento dos fluxos de investimento direto no segundo semestre. Mas não a ponto de conseguirmos chegar aos US$ 18 bilhões esperados pelo BC', comentou um analista. Ontem, parte dos profissionais do mercado financeiro esperava que o valor de US$ 18 bilhões fosse revisado para baixo.
CONTA CORRENTE
Apesar das dúvidas quanto ao ingresso de investimentos, a conta corrente do balanço de pagamentos, onde são registradas a transações do Brasil com o exterior, fechou o mês de agosto com um superávit de US$ 2,095 bilhões. É o maior saldo positivo já registrado em um mês de agosto desde que o Banco Central começou a compilar o indicador, em 1947.
A exemplo do que ocorreu nos últimos meses, o desempenho do comércio exterior deu forte contribuição para a construção do resultado da conta corrente de agosto último. No acumulado do ano, o superávit está em US$ 8,225 bilhões, valor equivalente a 1,38% do Produto Interno Bruto (PIB).
Para este mês, o chefe do Depec acredita que o superávit poderá sofrer um pequeno recuo e ficar em torno de US$ 1,9 bilhão. Com isso, o resultado acumulado em 12 meses cairá de US$ 13,789 bilhões para cerca de US$ 13,3 bilhões, número mais próximo do US$ 11,9 bilhões (1,31% do PIB) esperado para o fechamento do ano.
REMESSAS
O resultado de agosto só não foi melhor por causa do crescimento das remessas de lucros e dividendos. Pelos dados do BC, o valor das remessas aumentou no mês passado em relação a julho - de US$ 864 milhões para US$ 1,030 bilhão. Neste mês, o chefe do Depec informou que as remessas feitas até ontem estavam em US$ 325 milhões. 'Estamos vendo uma acomodação das remessas', disse.
O aumento nas remessas ao exterior tem sido provocado pela valorização do real e pelo próprio crescimento da rentabilidade das empresas estrangeiras no País. Para o ano inteiro, o BC conta com a possibilidade de as remessas ficarem em torno dos US$ 14,2 bilhões, valor superior aos US$ 12,686 bilhões de todo o ano passado.