Título: 'Vamos a passeatas para ganhar nosso dinheirinho'
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Economia, p. B4
As vagas de trabalho geradas na campanha eleitoral podem ter afetado os dados do mercado de trabalho apurados pelo IBGE em agosto, segundo observou o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo. 'Há indícios de influência das eleições, mas a pesquisa não tem como confirmar isso', disse.
Segundo a pesquisa, o segmento de atividade que mais elevou o número de ocupados nas seis regiões foi o de 'outros serviços', com crescimento de 2,5% ante julho e de 4,2% ante agosto do ano passado.
Esse grupamento inclui partidos políticos e comitês eleitorais, além de associações recreativas turismo, hospedagem,alimentação, serviços sociais.
Na Região Metropolitana de São Paulo, os indícios de influência das eleições são ainda mais fortes, já que o grupamento de Outros Serviços registrou aumento no número de ocupados de 4% em agosto em relação a julho. Foi o maior crescimento no mês entre os grupamentos pesquisados pelo IBGE na região. Dos 85 mil novos ocupados em São Paulo em agosto comparativamente a julho, 56 mil foram absorvidos por esse grupo de atividade.
Para as paulistanas Ana Paula Alvez e Laila de Oliveira, as eleições foram a chance para ajudar em casa. Desempregadas há quase dois anos, as duas passam cerca de 8 horas por dia caminhando com faixas, bandeiras e balões pelo centro de São Paulo. 'Depende do dia. Às vezes ficar quatro horas com a bandeira está bom. Em outros dias, tem de participar dos comícios até bem tarde.', explica Laila. 'Além de trabalho, acaba sendo um bom exercício.'
'Se tem passeata em Guarulhos nós vamos, se é em Campinas nós vamos, se é no centro nós vamos', diz Ana Paula. 'Mas tem de garantir esse dinheirinho.' Ela não conta quanto é o dinheirinho, mas diz que pelo trabalho de um mês e meio vai ganhar mais que um salário mínimo, e a quantia será suficiente para encher a despensa e comprar alguma coisa para os três filhos. 'Já trabalhei como vendedora e doméstica, mas hoje em dia está muito difícil arranjar emprego. Ainda bem que as eleições vieram para nos dar essa oportunidade.'
Laila diz que o melhor do trabalho é ouvir apoio dos eleitores. 'E a parte chata é que algumas pessoas não gostam do candidato e nos xingam. Elas podiam respeitar que estamos trabalhando.'
A 'porta-bandeira' Roseli Rosário diz que está adorando carregar faixas durante a campanha. 'Com o dinheiro que vou ganhar nesses 15 dias, vou pagar duas contas de telefone atrasadas', conta ela, que está desempregada há quatro meses. Roseli está torcendo para seu candidato vencer as eleições, mas só no segundo turno. A explicação é simples: 'É que se tiver mais um turno eu vou poder trabalhar mais uns dias, né?'