Título: Mercado de trabalho está mais atrativo
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2006, Economia, p. B4

Jovens com mais de 11 anos de estudo que não são responsáveis pelo sustento da família formaram o perfil do desemprego no País em agosto. Estimulados pela melhoria nos indicadores de renda e formalidade, eles pressionaram o mercado de trabalho e impediram uma queda mais forte na taxa de desemprego, que ficou em 10,6% no mês, estável em relação a 10,7% de julho mas bem superior a agosto do ano passado (9,4%).

A taxa, apurada nas seis principais regiões metropolitanas do País, permanece sem variação significativa há seis meses. A estagnação não é avaliada negativamente por especialistas, que vêem evolução nos indicadores e apontam o aumento da ocupação em agosto como o dado mais positivo da pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo, o cenário 'é muito favorável'. Segundo ele, o que impede a queda na taxa de desemprego é a atual fase do mercado, com maior formalidade e alta no rendimento. 'O mercado está mais atrativo e mais pessoas estão buscando trabalho. Estão batendo mais na porta do mercado de trabalho para entrar em função do que estão vendo lá dentro', disse.

O argumento é que a ocupação permanece em crescimento e teve em agosto alta de 1,1% em relação a julho, o maior aumento mês a mês apurado desde maio de 2005. A variação corresponde à inserção de 226 mil pessoas no mercado de trabalho nas seis regiões de um mês para o outro. 'É um aumento considerável', analisa. O rendimento médio real dos trabalhadores chegou a R$ 1.036,20 em agosto, com alta de 0,7% ante julho e de 3,5% ante agosto do ano passado.

Guilherme Maia, analista da Tendências Consultoria, também avalia como positiva a conjuntura atual, o que torna os indicadores de renda e ocupação mais importantes do que a própria taxa de desemprego, que teria atingido um 'ponto de equilíbrio' e só cairá de forma significativa após reformas estruturais, como da legislação trabalhista.

O analista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, observa que a alta do rendimento e da formalidade leva mais pessoas a buscar trabalho, impedindo a queda na taxa de desemprego. 'Houve uma percepção de maior probabilidade de conseguir êxito na procura por emprego.'

Mas, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) criticou em documento a estagnação da taxa e alerta que 'a conjuntura econômica não tem sido favorável para o emprego nas principais regiões metropolitanas brasileiras'. O gerente da pesquisa do IBGE vê o contrário: 'O cenário econômico é favorável ao mercado de trabalho, com mais formalidade, maior rendimento e geração de vagas'.

DESOCUPADOS

Segundo a pesquisa, dos 2,42 milhões de desocupados nas seis regiões em agosto, 46,4% tinham 11 anos ou mais de estudo; 55,8% eram mulheres; 46,5% tinham entre 25 a 49 anos de idade e 38,7% entre 18 e 24 anos; 74,5% não eram os principais responsáveis pelo domicílio e 80,3% já trabalharam anteriormente.

Para Azeredo, esse perfil mostra que o aumento da procura por uma vaga no mercado de trabalho não é resultado de 'desespero', mas da atual atratividade desse mercado. A pesquisa revelou que o número de desocupados nas seis regiões caiu 0,4% em relação a julho, mas aumentou 17,2% ante agosto do ano passado (o equivalente a mais 355 mil pessoas em busca de uma vaga em relação a igual mês de 2005).

O mercado continua caminhando em direção à maior formalidade. No setor privado, o emprego com carteira assinada cresceu 5,9% em relação a agosto do ano passado, o que representa, aproximadamente, mais 472 mil ocupados formais.

Nessa categoria de trabalhadores foi verificada estabilidade no rendimento médio, que ficou em R$ 1.047. Ou seja, o leve aumento do rendimento constatado pela pesquisa em agosto foi puxado pelos trabalhadores sem carteira assinada, que registrou variação positiva de 2,3%, passando de R$ 681 em julho para R$ 697 em agosto.