Título: Povoado sofreu outro massacre de civis durante 'Vinhas da Ira'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2006, Internacional, p. A10

O povoado de Qana, no sul do Líbano, onde a aviação israelense matou ontem mais de 60 pessoas, pelo menos 37 delas, crianças, já era um sinônimo de massacre de civis libaneses nos enfrentamentos entre Israel e o Hezbollah de dez anos atrás.

Em abril de 1996, durante a operação armada israelense denominada Vinhas da Ira no Líbano, dirigida contra o movimento xiita, vários obuses atingiram um quartel do contingente de soldados de Fiji da Força Interina das Nações Unidas no Libano (Finul) matando 105 pessoas entre os civis que se haviam refugiado ali.

Esse massacre marcou uma virada na ofensiva. Em face da reprovação mundial e dos insistentes apelos para uma cessação das hostilidades, firmou-se um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah em 26 de abril.

O acordo impôs aos beligerantes - Exército israelense e a milícia patrocinada por Israel, o Exército do Sul do Líbano (ESL), cristão, assim como às formações anti-israelenses, sobretudo o Hezbollah, não atingir mais civis e não lançar ataques contra zonas habitadas, ou a partir delas.

A operação Vinhas da Ira, desencadeada em 11 de abril de 1996 e caracterizada por cerca de 600 ataques aéreos israelenses, com o disparo de 23 mil tiros de obus, causou 175 mortos e 351 feridos em 16 dias, a maioria civis. Um informe da ONU concluiu que o bombardeio de Qana havia sido provavelmente deliberado.

O povoado de Qana, ao sul da cidade de Tiro e a 85 quilômetros de Beirute, é para os libaneses o lugar provável das Bodas de Canaã, onde Cristo realizou seu primeiro milagre transformando água em vinho durante um casamento.

Os libaneses oferecem como prova a existência de uma gruta onde Cristo teria descansado, e rochas com figuras humanas esculpidas.

Para Israel, ao contrário, o lugar bíblico evocado no Evangelho de São João é um povoado homônimo da Galiléia, perto de Nazaré, a cidade onde Cristo passou a infância. Nessa controvérsia, as investigações dos arqueólogos e exegetas dos textos bíblicos se inclinam claramente a favor da tese israelense.

Um chefe xiita da Qana libanaesa, Jaafar Sayegh, propôs a construção de uma mesquita na vila, levando em 1994 o Exército libanes a intervir para proteger o local.