Título: Israel suspende bombardeio aéreo após ataque que deixou 60 mortos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2006, Internacional, p. A10

Um ataque aéreo de Israel a um prédio matou ontem pelo menos 60 civis, 34 deles, crianças, de acordo com funcionários de segurança libaneses, na vila de Qana, sul do Líbano, quando a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, estava em Israel. O governo israelense suspendeu as operações aéreas no Líbano por 48 horas para investigar o bombardeio ler abaixo).

Foi o pior ataque israelense desde o início do conflito com a milícia Hezbollah, que completou ontem 19 dias. O bombardeio atingiu um prédio de três andares, que ruiu. No subsolo do prédio havia pessoas que tentavam se proteger dos bombardeios, segundo o ministro do Interior libanês, Ahmed Fatfat. O Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou um comunicado manifestando ¿extremo choque e preocupação¿, mas não emitiu uma condenação aos ataques israelenses.

Era o início da manhã e os moradores do povoado ainda dormiam. Entre os mortos estavam vários membros das famílias Shalhoub e Hashem. Eles usavam o subsolo do prédio como último refúgio, pois não podiam pagar os exorbitantes preços cobrados pelos táxis para deixar a área. Segundo um sobrevivente, ¿o bombardeio foi tão intenso que ninguém pôde se mover¿. Naim Raqa, chefe do grupo encarregado do resgate, disse que, quando foram encontradas, várias vítimas estavam juntas, perto de uma parede. ¿Pobrezinhos, eles pensaram que as paredes os protegeriam¿, disse Raqa.

O Exército israelense justificou o bombardeio afirmando que Qana era usada por militantes do Hezbollah para lançar foguetes contra Israel. O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, expressou ¿profunda tristeza¿ pelas vítimas, mas disse que os ataques continuarão. O primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, disse que não houve advertência de Israel. ¿Mais de 50 pessoas morreram, metade crianças, incluindo uma de um dia¿, lamentou. Em Qana, há dez anos, um ataque de Israel matou mais de cem.

A crise entre Israel e o Hezbollah começou quando o grupo xiita libanês capturou dois soldados israelenses e matou oito, no dia 12. Segundo o governo libanês, foram mortos mais de 700 libaneses no conflito. Do lado israelense morreram 51, incluindo 18 civis.

Ontem, foi confirmado, pelo escritório de Olmert, que o líder israelense disse a Condoleezza Rice, no sábado, que Israel precisaria de mais 10 a 14 dias para continuar com a ofensiva no Líbano. O general Gadi Eisenkaut disse que o Exército estabeleceu prazo até quarta-feira para criar uma zona de segurança de 2 quilômetros de largura na fronteira.

Após o ataque, Siniora teve uma conversa telefônica com Condoleezza. Segundo a secretária, ela se solidarizou com as vítimas e cancelou a visita que faria a Beirute. Siniora disse em entrevista que ¿não havia lugar nesse dia triste para nenhuma discussão além de um cessar-fogo incondicional¿, dando a entender que Rice não era bem-vinda. O massacre de ontem deixou uma solução diplomática ainda mais distante.

O Hezbollah lançou mais de 130 foguetes Katiusha no norte de Israel, deixando 14 feridos. Pelo menos três foguetes caíram em Haifa. Outras cidades atingidas foram Nahariya, Kiryat Chmona e Acre.

Um tanque israelense foi atingido por um míssil e quatro soldados foram feridos, na vila de Adaisse. Outros quatro soldados foram feridos em outros choques. Segundo a rede de TV Al-Jazira, o Hezbollah anunciou a morte de oito soldados israelenses, em Taibe. Fontes de Israel haviam anunciado o aprofundamento da invasão no Líbano, com a entrada nas aldeias de Taibe, Qila e Ad-Deize.