Título: Aflito com Sul e Sudeste, PT monta estratégia para atrair classe média
Autor: Bruno Winckler
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Nacional, p. A8

A cúpula do PT está preocupada com a disparidade dos índices de intenção de voto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas diferentes regiões do País. Pesquisa do Vox Populi encomendada pelo partido e apresentada ontem aos coordenadores da campanha mostrou que Lula tem desempenho muito favorável no Norte e Nordeste, regular no Centro-Oeste e ruim no Sul e no Sudeste, especialmente entre os eleitores das classes média e alta.

Diante da manutenção desse quadro, o comando da campanha vai caprichar na comparação do governo Lula com o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em assuntos que interessam essa faixa do eleitorado, na tentativa de provar que "Lula fez mais" do que seu antecessor. A estratégia já começou a ser posta em prática, mas será reforçada no início do horário eleitoral, no dia 15.

"O debate fundamental é mostrar o rumo das coisas", afirmou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), coordenador da campanha. Embora a assessoria jurídica do Palácio do Planalto tenha recomendado aos ministros e dirigentes do PT que evitem comparações, a técnica nunca saiu de cena. Ao contrário: todos prometem investir na numeralha.

O vice-presidente José Alencar, que visitou ontem o comitê, também vai ajudar na estratégia de recuperar votos das camadas de maior poder aquisitivo. "O Brasil não está mais no tempo de fazer aventuras e experiências", disse ele, com retórica afiada. Alencar recebeu novamente a missão de atrair os empresários para a campanha.

A sondagem apresentada no comitê de Lula para consumo interno indicou ainda que as cicatrizes deixadas no presidente-candidato após a crise política não foram removidas. Mais: a perda do discurso da ética ainda está na lista dos fatores de rejeição a ele.

Ao apontar cenários, o levantamento analisou de que forma grandes temas nacionais, como segurança, saúde, educação e CPIs, se "relacionam" com o eleitor. Coordenadores da campanha concluíram que, apesar da insatisfação, há grande espaço para convencer quem não vota em Lula a mudar de idéia.

A ordem, no entanto, é intensificar a mobilização. Nos próximos dias, o presidente participará de vários atos temáticos com negros, evangélicos, mulheres e sindicalistas.