Título: Máfia terceirizava cooptação de parlamentares
Autor: Chico de Gois
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Nacional, p. A11

O depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin à Justiça de Mato Grosso, no mês passado, revela que o esquema dos sanguessugas estava terceirizando o lobby em busca de parlamentares que aceitassem participar da apresentação de emendas em favor das empresas de sua família.

O principal agente "terceirizado" era, segundo revelou Vedoin, Wilber Correa da Silva, ex-chefe de gabinete do ex-deputado federal Zé Índio (PMDB-SP). Wilber foi detido em maio, quando a Polícia Federal promoveu uma ação para prender acusados de envolvimento no direcionamento de licitações para compra de ambulâncias.

Em seu depoimento, Vedoin afirma que "no final de 2005 Wilber atuava como lobista, fazendo contato com deputados e assessores para conseguir recursos para entidades". Nessa função, ele informava a família Vedoin sobre emendas para saúde e ciência e tecnologia.

Os deputados que estavam na mira de Wilber, segundo Vedoin, eram Leonardo Matos (PV-MG), que destinou R$ 800 mil para a área da saúde; Jaime Martins (PL-MG), que subscreveu R$ 3 milhões para o setor; Geraldo Thadeu (PPS-MG), que assinalou R$ 2,8 milhões para a saúde; e Ademir Camilo (PDT-MG), que destinou R$ 2 milhões para a saúde e mais R$ 400 mil para tecnologia.

No depoimento, Vedoin afirma que não chegou a fazer negócios com os deputados citados. "O interrogando (Vedoin) não trabalhava com esses deputados ainda e o interrogando não chegou a fazer nenhuma tratativa com esses deputados até porque todas essas emendas eram para o exercício de 2006."

Camilo confirmou que foi abordado por Wilber, que lhe teria sido apresentado pelo deputado Vadinho Baião (PT-MG). "Ele disse que poderia nos ajudar a liberar emendas no Ministério da Ciência e Tecnologia", disse Camilo, que negou ter recorrido ao lobista. "Eu já tinha definido as emendas."

Vadinho Baião afirmou que conheceu Wilber "no futebol". O parlamentar disse que todas as terças-feiras um grupo de deputados se reunia para jogar no Iate Clube de Brasília. Alguns assessores também compareciam. Entre eles, Wilber. E foi no jogo que Baião disse ter conhecido o lobista.

"Ele chegou a me pedir para colocar emendas para compra de ambulâncias, mas eu não o fiz porque acho que programa de saúde vai além da entrega de ambulâncias", afirmou o petista, negando que o lobista lhe tenha oferecido qualquer vantagem. "Ele dizia que tinha facilidade para liberar as emendas." Sobre a apresentação a Camilo, Baião declarou que "pode até ser" que tenha apresentado, "mas não oficialmente".

Geraldo Thadeu também disse conhecer Wilber, mas negou que ele o tenha procurado para oferecer negócios. "Ele me procurou em 2003 em busca de emprego, mas eu não o empreguei." Em 2005, segundo Thadeu, o lobista voltou a conversar com o parlamentar para lhe oferecer um serviço de telemensagem que teria sido recusado.

Leonardo Matos disse não se lembrar se conheceu o lobista. "Tanta gente aborda deputados todos os dias que não consigo lembrar." Porém, Matos observou que Wilber chegou a procurar funcionários de seu gabinete. "Só fiquei sabendo depois que a bomba explodiu." Ele também disse que não direcionou emendas para os Vedoin.

Jaime Martins admite que conhecia Wilber "dos corredores da Câmara, mas nunca tratou desse assunto com ele ".