Título: MST resiste a despejo de engenho da Votorantim em PE
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Nacional, p. A13

O Movimento dos Sem-Terra (MST) resistiu ontem a uma ação de reintegração de posse do Engenho São João, do Grupo Votorantim, no município metropolitano de São Lourenço da Mata, e desafiou a Justiça: um dos representantes do movimento rasgou o mandado entregue pelo oficial de Justiça às 6h40. Depois de um dia de muita tensão, com a presença de 350 homens de sete unidades da Polícia Militar no local, o despejo não ocorreu ontem, mas o juiz da 2ª Vara Cível de São Lourenço da Mata, José Gilmar da Silva, manteve a ordem, que deverá ser cumprida hoje.

No final da tarde, depois de 10 horas de expectativa de confronto entre homens do Batalhão de Choque, cavalaria, canil, operações especiais e radiopatrulha da PM e as 60 famílias do Acampamento Chico Mendes, o deputado estadual Isaltino Nascimento (PT) anunciou que havia sido encontrada uma solução. O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, teria conversado com a direção da Votorantim e chegado a um acordo que adiava para dia 15 uma reunião com advogados da empresa em busca de solução para o Acampamento Chico Mendes.

O juiz José Gilmar não cedeu. Ele já havia se mantido inflexível de manhã quando uma comissão formada pelo promotor agrário estadual Édson Guerra, parlamentares estaduais e advogados de comissão de direitos humanos ponderou sobre a possibilidade de violência na área. O juiz alegou que o MST - que havia invadido o engenho pela primeira vez em março de 2004 e foi despejado no ano seguinte - voltou a ocupar o local, descumprindo acordo, sendo, portanto, reincidente.

Segundo o oficial de Justiça Joel Rodrigues de Moura, diante da negativa do juiz, a Polícia Militar - que decidiu não desalojar as famílias ontem à noite - terá de fazer o despejo sob risco de ser acusada de descumprir ordem judicial. Os sem-terra mantêm a disposição de não sair.