Título: Na ONU, ainda o impasse sobre resolução para a paz
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Internacional, p. A14

EUA, França e Grã-Bretanha pretendem enviar para votação no Conselho de Segurança (CS) da ONU, dentro de uma semana, uma resolução que faça um chamado por um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah.

O texto também buscaria reforçar a atual força de observadores da ONU na fronteira do Líbano até que um contingente mais robusto possa ser formado, disseram diplomatas e funcionários da organização, em Nova York. Segundo eles, também seria definida a criação de uma zona de segurança no sul do Líbano e o desarmamento do grupo xiita Hezbollah.

Mas a França deixou claro que não enviará tropas para a força multinacional se antes não forem acertados os termos para um cessar-fogo permanente, aceito por todas as partes. Um encontro previsto para ontem para definir os países que integrariam a força foi adiado pela segunda fez esta semana, desta vez por tempo indeterminado. Isto porque a França anunciou que o boicotaria. "Acreditamos que as condições para o envio da força multinacional não estão dadas. Portanto, essas reuniões são prematuras", explicou o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da França, Denis Simonneau.

No Líbano, um membro do conselho central do Hezbollah, Ali Fayyad, disse que a guerra não terminará "enquanto Israel e os EUA continuarem impondo condições para a trégua. Ele também afirmou que o grupo se opõe a uma força de paz.

Já o chefe das operações de forças de paz da ONU, o francês Jean-Marie Guehenno, disse ao diário francês Le Monde que será difícil convencer os países membros a oferecer tropas para uma força de paz se antes não houver um cessar-fogo."Uma força internacional nunca pode impor a paz. É difícil unir as pontas de um processo político sob bombardeio", disse Guehenno.

A França dominou o Líbano entre a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais, mantém laços estreitos com o país e busca um papel de liderança nos esforços diplomáticos para pôr fim ao conflito. Como na guerra do Iraque, o novo conflito regional também opõe EUA, aliados de Israel e defensores de um "cessar-fogo sustentável", e a França, que apóia a posição libanesa, de um cessar-fogo incondicional. O ex-ministro da Cultura da França, o socialista Jack Lang, fez na TV francesa fortes críticas ao presidente dos EUA, George W. Bush, a quem qualificou de "fanático" que mergulhou o mundo e o Oriente Médio no caos, instigando o terrorismo.

EUA-ONU

O governo americano repreendeu duramente ontem o subsecretário-geral da ONU, Mark Malloch Brown, que pela segunda vez nos últimos meses criticou a política americana para o Oriente Médio. Brown declarou que os EUA deveriam permitir que outras nações compartilhem com eles os esforços diplomáticos na região. Disse ainda que os EUA e a Grã-Bretanha, nações que conduziram a guerra e a ocupação do Iraque, não são as mais indicadas para resolver a crise libanesa.

"Estamos presenciando um padrão perturbador de um funcionário de alto escalão da ONU que parece ter feito como seu negócio criticar membros e, francamente, com críticas fora de lugar e tolas.", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.