Título: Hezbollah dispara 210 foguetes
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Internacional, p. A14

O grupo xiita libanês Hezbollah disparou ontem um número recorde de foguetes e mísseis em um só dia no norte de Israel - pelo menos 210. Um deles atingiu a cidade de Beit Shean, a 70 quilômetros da fronteira - o maior alcance até agora de um projétil do grupo.

Um homem morreu num dos ataques, na cidade de Nahariya, e pela primeira vez a Cisjordânia, território ocupado por Israel na guerra de 1967, foi atingida: um foguete caiu perto dos vilarejos árabes de Fakua e Jalboun, sem causar vítimas.

Pouco antes dessa barragem de projéteis cair sobre o país, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, declarou à Reuters que a ofensiva no Líbano havia "destruído inteiramente" a infra-estrutura do Hezbollah, o que seria comprovado pelo reduzido número de foguetes lançado nos dois dias anteriores.

Os intensos ataques do Hezbollah foram em resposta ao primeiro grande assalto das forças israelenses no interior do Líbano no atual conflito, desfechado entre terça-feira à noite e ontem de madrugada, com o apoio de helicópteros. Nessa ação, os bombardeios na vila de Jammaliyeh, perto de Baalbek, no nordeste do Líbano, mataram 15 civis libaneses (incluindo 4 crianças) e 4 membros do Hezbollah.

Israel retomou na madrugada de hoje os ataques aéreos contra redutos do Hezbollah nos subúrbios do sul de Beirute. Ontem, os bombardeios se concentraram ao redor do hospital Dar al-Hikma, em Baalbek, financiado por uma entidade beneficente iraniana ligada ao Hezbollah, segundo moradores da área. O Exército israelense exibiu um vídeo que, segundo ele, provaria que o local era uma base do grupo. Um porta-voz do Hezbollah, por sua vez, informou que o prédio estava vazio, já que fora atacado na semana passada por Israel.

Cerca de 200 soldados israelenses de uma unidade de elite invadiram o hospital e capturaram cinco combatentes do baixo escalão do Hezbollah. O Exército de Israel negou que seu alvo fosse um dos líderes do grupo, mas surgiram informações de que um dos capturados tem nome parecido ao do xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah.

Num outro bombardeio de Israel, contra uma base do Exército libanês em Sarba, sul do Líbano, morreram três soldados. Militares israelenses disseram ter atacado o local porque dali eram disparados foguetes contra o norte israelense.

Perto da fronteira, continuam acirrados os combates entre milhares de soldados de Israel, que tentam estabelecer uma zona de segurança no sul libanês, e centenas de militantes do Hezbollah. Nos confrontos perto das vilas de Mahabib, Ayta a-Shab e Kfar Kila, o comando militar de Israel diz ter matado dez membros do Hezbollah e perdido um soldado.

A Força Aérea de Israel despejou ontem folhetos em 10 vilarejos na região, numa extensão de 20 quilômetros desde a fronteira, advertindo os moradores a deixarem suas casas, se não quiserem pôr suas vidas em risco. As famílias que permanecem na área temem partir e ser alvo de bombardeios ou não têm recursos para ir embora.

Cerca de 10 mil soldados israelenses estão operando no lado libanês da fronteira, para tentar expulsar o Hezbollah de uma ampla faixa. Inicialmente os militares disseram que seu objetivo era empurrar o grupo para trás do Rio Litani (a quase 30 quilômetros da fronteira). Ontem, indicavam ter como meta fixar-se numa extensão de 6 a 8 quilômetros.

Pelo menos 643 libaneses e 55 israelenses morreram em 22 dias de conflito, iniciado quando o Hezbollah invadiu Israel, no dia 12, matou três soldados israelenses e capturou outros dois.