Título: TAM e Gol já dominam quase 90% do mercado
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Negócios, p. B16

As duas principais empresas aéreas, TAM e Gol, já dominam quase 90% do tráfego doméstico de passageiros, em um momento em que despenca a participação da Varig no mercado doméstico. Apenas entre as décadas de 1970 e de 1980 houve tamanha concentração de mercado no setor. Segundo o especialista Paulo Bittencourt Sampaio, a participação da Varig deve estar hoje em torno de 2%. A empresa caiu para a quarta colocação no mercado, atrás da BRA.

Sampaio estima que na terceira semana de julho, a TAM já havia ultrapassado o patamar de metade do mercado (51%) e a Gol chegado a 37,1% - juntas somavam 88,1 %. A Varig tinha 4,6% no dia do leilão, peso que deve ter caído praticamente à metade depois da drástica redução da malha da empresa, na semana seguinte à venda. O especialista avalia que a Varig já está atrás da BRA e mais perto da Ocean Air no ranking.

Sampaio lembra que se tivesse ocorrido a fusão Varig/TAM, que chegou a ser defendida dentro do governo, haveria hoje uma empresa com mais de 70% de participação - à época, as duas companhias somavam 73%. Especialistas em defesa da concorrência argumentam que quando a concentração aumenta, cai a competição e os preços sobem. O consultor avalia que não é necessariamente nocivo haver duas grandes empresas no setor.

Já o pesquisador do Núcleo de Estudos em Competição e Regulação de Transporte Aéreo (Nectar), do Instituto Tecnológico Aeronáutica (ITA), Alessandro Oliveira, analisa que no curto prazo situações de duopólio tendem a ser prejudiciais e que num caso de crise na concorrência, como o atual, acaba ocorrendo uma migração de passageiros para as duas maiores empresas e os preços sobem. Inicialmente, a oferta de vôos não basta para atender o avanço da demanda.

Mas no médio prazo, acredita ele, a situação do mercado tende a se regularizar. "Depende do que o órgão regulador e as autoridades antitruste (de defesa da concorrência) fizerem", disse Oliveira.

Ele explica que se o mercado continuar livre e for permitido o acesso de novas empresas à prestação de serviços, a tendência é de mais empresas disputarem o setor.

TARIFAS Oliveira fez um trabalho junto com a economista Lúcia Helena Salgado, do Ipea, mostrando que caso a flexibilização das regras do setor na década de 1993 a 2002 não tivesse sido implementada os passageiros teriam pago 11,3% a mais pelos bilhetes aéreos. Segundo o estudo, este patamar "é relativamente alto e deveria ser considerado quando dos debates quanto à formulação de novas políticas".

Recentemente, executivos da TAM argumentaram que o setor é concentrado também em outros países, à exceção, basicamente dos EUA, onde há várias empresas. Em mercados com o francês e o alemão, uma empresa domina a maior parte do mercado. Para o pesquisador do Nectar, o mercado brasileiro comporta basicamente entre três e quatro empresas aéreas de maior porte, além de empresas regionais e táxi aéreo.

REJEIÇÃO A VarigLog terá grande dificuldade para recuperar mercado e diminuir o domínio da TAM e da Gol. Uma pesquisa realizada pelo Estadão.com.br, que ouviu 1.626 pessoas, mostrou que 78,37% delas - ou 1.275 - não comprariam bilhetes da companhia na atual situação. "Como posso confiar em uma empresa que cancela seus vôos e não tem compromisso com o cliente?", disse Roberto Schimidt, que participou da pesquisa.