Título: Advogada do PCC bate recorde de visitas a presídios, revela CPI
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2006, Metrópole, p. C1

Planilhas da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo (SAP) enviadas à CPI do Tráfico de Armas mostram a facilidade com que advogados visitam presos nas unidades prisionais do Estado. A descrição de cada comparecimento de advogados aos presídios aponta Maria Odette de Moraes Haddad como a recordista em visitas. Em 2005, foram 198 - o equivalente a uma visita a cada 1,8 dia. Este ano, de janeiro até 2 de junho, já chegam a 151.

Em um único dia, 18 de maio, na semana seguinte aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), Odette esteve com 19 presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Entre eles estavam os integrantes da facção Marcos Paulo Nunes da Silva, o Vietnã, Osmar Gigliolli Pena, o Tico Branco, e Marcelo de Oliveira, o Dingobel.

Para o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), criticado por associações de advogados por levantar suspeitas contra os profissionais, a CPI "vai provar que alguns já fazem parte da facção e são os principais responsáveis por levar e trazer ordens dos líderes".

Maria Odette, que nega ligação com o crime organizado, faz parte do grupo de 34 advogados investigados pela CPI por suspeita de colaboração com o PCC, principalmente para transmitir recados entre detentos e para providenciar a entrada de celulares nos presídios. Em 23 de maio, a advogada voltou a Presidente Venceslau, desta vez para se reunir com sete presos. "Os advogados podem encontrar qualquer preso, seja cliente ou não. Não há restrição para as visitas. Essas normas têm de mudar", defende o relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Os integrantes da comissão consideram excessivo o número de visitas recebidas por presos já condenados. Em 2005, Maria Odette, por exemplo, fez 24 visitas - média de duas por mês - ao preso Orlando Mota Junior, o Macarrão, apontado como um dos líderes do PCC. Este ano, não há visitas de Odette ao criminoso: Macarrão foi atendido até junho por Valéria Dammous e Libânia Costa, presas desde 28 de junho sob acusação de trabalharem para o PCC. Ontem, em depoimento à CPI, negaram colaboração com a facção e disseram que se limitam a defender presos, sem saber de que grupo são.

Outro levantamento da SAP detalha visitas feitas ao líder máximo da facção, Marcos Camacho, o Marcola, entre 2003 e 2006. Este ano, ele já recebeu 15 visitas de nove advogados diferentes. Entre as mais freqüentes visitantes estão Maria Odette e Maria Cristina de Souza Rachado, também presa sob acusação de ligação com o PCC.

Tanto em 25 de janeiro quanto em 11 de abril, Marcola recebeu duas visitas no presídio de Avaré. Na primeira data, a SAP registra a entrada do advogado Sérgio Weslei da Cunha às 12h30, e saída, às 14 horas. Maria Cristina Rachado chegou às 15h40 e saiu às 17h05. Na segunda, João Luiz Costa chegou às 13h50 e saiu às 14h06, enquanto Odette chegou às 16 horas e saiu às16h55.

Em 2003, Marcola recebeu 37 visitas de advogados. Nos dois anos seguintes, as visitas não chegaram a dez ao ano. A lista da SAP aponta pelo menos 26 advogados que foram a presídios a pretexto de encontrar Marcola, entre 2003 e 2006. A CPI recolhe dados sobre a advogada Ariane dos Anjos, pelas freqüentes visitas a ele.

DEFENSORAS

A advogada Maria Odette Haddad disse que não há ligação entre suas visitas e os ataques do PCC. "Faço visitas freqüentes aos clientes. Tenho pelo menos 12 em Presidente Bernardes. Se há suspeitas, não me recuso a ser investigada." A advogada Ariane dos Santos diz que não esteve com Marcola este ano. "Fui advogada dele só até o ano passado", disse. Já a advogada Jacqueline Terencio negou ligação com o crime organizado. "Tenho muitos clientes no sistema prisional e os visito sempre."