Título: Vedoin derruba defesa de parlamentares acusados
Autor: Fausto Macedo, Sônia Filgueiras e Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Nacional, p. A6

O empresário Luiz Antônio Vedoin fez revelações ontem à CPI dos Sanguessugas que derrubam a defesa da maior parte dos congressistas acusados de envolvimento com a máfia das ambulâncias, abrindo caminho para um processo de cassação em massa. Fechou-se o cerco sobre os parlamentares que receberam dinheiro em espécie e sobre aqueles que estão tentando atribuir a culpa a assessores.

"Ele foi incisivo, claro, preciso e até avexado, como se diz no Nordeste, para responder às coisas com a devida precisão", disse o vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, Raul Jungmann (PPS-PE). Vedoin revelou os nomes de mais dois deputados que estariam associados a fraudes com emendas. "Esses deputados devem ser notificados de imediato", declarou Jungmann.

O vice-presidente da CPI informou que Vedoin fez referência a um senador, cujo nome não revelou, que teria conseguido direcionar a liberação de R$ 20 milhões do Ministério da Saúde. A menção foi feita na hora em que ele recomendava à CPI que não se restringisse a investigar emendas, rastreando também os pagamentos "extra-orçamentários" - liberações de recursos do ministério, aos quais a Planam tinha pouco acesso.

Segundo integrantes da CPI, Vedoin teria dado elementos concretos que permitirão confirmar, por exemplo, que o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) tinha conhecimento das comissões pagas a seu assessor, Marcelo Carvalho, acusado de receber dinheiro da máfia e preso na Operação Sanguessuga. Suassuna demitiu Carvalho e alega que desconhecia o envolvimento dele com o esquema.

Jungmann não quis revelar os nomes dos novos deputados acusados, mas, segundo integrantes da CPI presentes ao depoimento, um deles seria Alexandre Santos (PMDB-RJ). Vedoin disse que ele teria usado o cargo para negociar emendas, mas não com a Planam. Por isso, não teria provas.

Santos negou ontem qualquer irregularidade. "Não permito nem que empresários falem comigo sobre esse tipo de coisa", disse. "É por isso que esse senhor (Vedoin) está longe de mim e o meu nome não está nessa sujeira, apesar de eu ter sido coordenador da bancada do Rio para questões orçamentárias por muito tempo, até 2002."

EXEMPLOS

Para o presidente da CPI, Antônio Biscaia (PT-RJ), o depoimento foi "elucidativo, detalhado e verossímil sob todos os aspectos". Sem citar nomes, Biscaia deu exemplos claros em que o dono da Planam ajudou a reforçar as evidências de envolvimento de parlamentares que usavam assessores como escudo. Vedoin sugeriu que a comissão rastreasse os ofícios assinados pelos parlamentares pedindo liberação de verbas.

Segundo Jungmann, o empresário ofereceu informações importantes para comprovar o envolvimento dos parlamentares que receberam propina em dinheiro vivo. Segundo ele, em muitos casos Vedoin conseguiu citar testemunhas que presenciaram a entrega do dinheiro.

Ex-assessor de Suassuna nega tudo Em depoimento ontem à Corregedoria do Senado, Marcelo Cardoso de Carvalho, ex-assessor do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), negou participar do esquema dos sanguessugas, mas afirmou que nunca fez nada escondido de seu ex-chefe. Carvalho, que foi preso pela PF, é apontado como responsável pela elaboração de emendas no gabinete do senador para compra de ambulâncias superfaturadas, além de ser acusado de receber propina.

Ao corregedor Romeu Tuma (PFL-SP), Carvalho negou ter recebido dinheiro da família Vedoin, dona da Planam, mas admitiu ter recebido dinheiro de Darci Vedoin pela intermediação da venda de um barco.

Na tentativa de constrangê-lo, Suassuna tentou assistir ao depoimento, mas foi impedido pelo deputado Júlio Redecker (PSDB-RS) e deixou a sala visivelmente irritado. Depois, Suassuna retornou com pedido para que seja ouvido pela comissão.

De acordo com o sub-relator da CPI José Carlos Aleluia (PFL-BA), Carvalho "não colaborou e nega tudo para não se comprometer". Outros funcionários de Suassuna também devem ser convocados para depor.