Título: No pior dia de baixas para Israel, Hezbollah ameaça atacar Tel-Aviv
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Internacional, p. A12

O grupo xiita libanês Hezbollah e Israel trocaram ontem ameaças de ampliar a dimensão de seus ataques, ao mesmo tempo que prosseguiam com os combates e bombardeios.

O Hezbollah infligiu o número mais elevado de baixas a Israel em 23 dias de conflito, matando oito civis em ataques com foguetes no norte do país e quatro soldados em combates no sul do Líbano, onde as tropas israelenses avançam para impor uma "zona de segurança". Bombardeios israelenses mataram quatro civis libaneses. Segundo o Exército de Israel, quatro combatentes do Hezbollah foram mortos em confrontos.

Israel afirma ter estabelecido o controle de áreas nas imediações de cerca de 20 vilarejos e cidades numa faixa de até 6 quilômetros da fronteira - a mesma área que ocupou por 18 anos, até retirar seu Exército do Líbano em 2000, após anos de guerra de guerrilha do Hezbollah. Também continuou bombardeando regiões xiitas, como a cidade de Taibe, no norte, e vários vilarejos no sul.

De acordo com o diário israelense Haaretz, o ministro da Defesa, Amir Peretz, ordenou que os militares se preparem para controlar todo o território ao sul do Rio Litani, uma extensão de quase 30 quilômetros, que incluiria o porto de Tiro. A medida ainda depende de aprovação do governo e iria requerer a convocação de mais reservistas (cerca de 30 mil foram chamados na última semana).

Depois de alguns dias sem aparecer, o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, ameaçou desfechar um ataque contra Tel-Aviv se Israel voltar a bombardear Beirute, como fez na madrugada de ontem. Um vídeo com a declaração do xeque foi transmitido pela TV do Hezbollah, a Al-Manar, que apesar de ter sido alvo de bombardeios continua transmitindo para o Líbano e outros países.

"Se vocês atacam Beirute, a Resistência Islâmica atacará Tel-Aviv e é capaz de fazer isso", disse Nasrallah, aparentemente confirmando temores de Israel de que o grupo tem mísseis com alcance de 130 quilômetros. Nasrallah disse que o grupo só "está respondendo à agressão israelense". "A qualquer momento que pararem com os bombardeios nós suspenderemos os ataques com foguetes. Preferimos o engajamento de militares com militares."

Pouco depois, a TV israelense informou, citando uma fonte militar, que o governo israelense destruiria a infra-estrutura do Líbano se o Hezbollah fizer isso. Na madrugada de hoje, Israel voltou a bombardear intensamente bairros xiitas no sul de Beirute, entre eles Ouzai. Em meia hora a aviação israelense lançou 15 rodadas de bombardeio em Ouzai, onde começa a rodovia que liga Beirute ao sul.

Apesar da intensa campanha militar aérea e terrestre de Israel no Líbano, o Hezbollah continua lançando dezenas de foguetes diariamente. Ontem foram mais de 100, enquanto na quarta-feira o grupo estabeleceu um recorde, disparando 207 projéteis, incluindo um com alcance de 70 quilômetros.

Num balanço dos 22 dias do conflito, o primeiro-ministro do Líbano, Fuad Siniora, afirmou que 900 libaneses morreram e 3 mil ficaram feridos, sendo um terço das vítimas crianças com menos de 12 anos. Ele estimou que 1 milhão de habitantes - um quarto da população do Líbano - buscaram refúgio em outra parte do país ou no exterior. Esses números não batem com os de agências de notícias. A Reuters, por exemplo, computa a morte de 686 pessoas.

Do lado israelense, o saldo é de 68 mortos, dos quais 41 soldados e 27 civis, e perto de 300 mil refugiados em outras áreas.

No plano diplomático, não houve avanço. França, Grã-Bretanha e EUA continuam discutindo os termos de uma resolução com o objetivo de impor um cessar-fogo.