Título: ONU pede que Brasil assuma gastos para ajudar Líbano
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Internacional, p. A13

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) fará um apelo para que o governo brasileiro assuma o seu custo com a manutenção dos 4 mil refugiados estrangeiros no Brasil, de US$ 780 mil, para que esses recursos possam ser destinados à ajuda humanitária no Líbano. O representante da Acnur no Brasil, Luiz Varese, vai apresentar o pedido nos próximos dias ao Ministério das Relações Exteriores.

Tanto o Acnur quanto o Itamaraty aconselham a sociedade brasileira a evitar a coleta de suprimentos - que geraria custos adicionais de transporte e de logística - e preferir o envio de doações financeiras às vítimas.

No total, o Acnur estima que a assistência humanitária aos libaneses exigirá a coleta de US$ 18 milhões em todo o mundo, dos quais US$ 7,8 milhões seriam destinados à construção de abrigos e à distribuição de itens domésticos. Na semana passada, o alto comissário da entidade, António Guterres, fez um apelo mundial em favor dessas doações, reiterado ontem por Varese. No orçamento regular da Acnur, apenas 2% das verbas são provenientes das Nações Unidas. O restante é obtido por meio de contribuições.

"A situação no Líbano é verdadeiramente trágica, do ponto de vista humanitário, e tende a piorar com a chegada do inverno. Os custos das operações de ajuda também triplicarão nesse período", afirmou Varese.

"A guerra, por si, é um horror. Mas, nesse caso, não se pode falar em dano colateral. A população civil é o alvo dos bombardeios", completou.

Os dados do Acnur mostram que 880 mil libaneses deslocaram-se de suas casas - 19,5% da população do país. No sul, essa proporção é de três em cada quatro habitantes. Pelo menos 100 mil pessoas necessitam de ajuda humanitária direta e emergencial. Além disso, cerca de 2 mil cidadãos cruzam diariamente a fronteira com a Síria, em busca de refúgio, o que eleva o número de pessoas que precisam ser assistidas.

Segundo Varese, a Acnur conseguiu enviar para o Líbano cinco comboios com 180 toneladas de produtos - kits de cozinha, colchões e cobertas -, em veículos utilitários. O envio de um volume maior de itens é impossível por causa da destruição de estradas e da insegurança. A Cruz Vermelha Internacional e os Médicos sem Fronteiras conseguiram ingressar no país pelo litoral.

A Acnur acredita que essa situação deverá se agravar, uma vez que Israel não aceitou a definição de um corredor humanitário, o que exigiria uma negociação diplomática, e rompeu a trégua de 48 horas, decretada no último domingo. No Brasil, as doações para as vítimas do conflito devem ser depositadas na conta corrente da Acnur, número 9003061-9, na agência 1515 do Banco Sudameris, CNPJ 07.100.754/0001-62.

Outra opção é o depósito de contribuições na conta corrente aberta pelo Consulado do Líbano em São Paulo, número 200.004-5, na agência 1606-3 do Banco do Brasil.

BRASILEIROS

O embaixador Everton Vargas, chefe de gabinete da secretaria-geral do Itamaraty, informou ontem que 2.250 brasileiros foram resgatados do Líbano, dos quais 1.426 já foram trazidos para o Brasil. Hoje, um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) deverá decolar de Adana, na Turquia, levando 15 mil kits de medicamentos e uma equipe médica a Damasco. Esse mesmo vôo retornará ainda na sexta-feira com 70 brasileiros em situação de emergência.

Outro avião da FAB, com 150 lugares, deixará Adana no sábado. Vargas informou ainda que, além da TAM e da Gol, a companhia aérea BRA decidiu colaborar no resgate dos brasileiros alojados em Damasco. O primeiro vôo da BRA deixará Damasco na segunda-feira, com 250 passageiros.