Título: Diplomatas brasileiros criticam Israel
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Internacional, p. A15

O governo brasileiro adota uma posição pública em relação ao conflito no Líbano bem mais cautelosa do que o conteúdo das comunicações internas do Itamaraty sobre a guerra. Fontes diplomáticas revelaram ao Estado que os telegramas enviados pelos diplomatas do País no Oriente Médio a Brasília sobre a situação na região não poupam críticas ao governo de Israel por suas ações no Líbano.

Mas, publicamente, o governo opta por um discurso menos radical e os ataques contra o governo de Israel não são divulgados. Ontem, um diplomata de alto escalão do Itamaraty ainda afirmou que as ações israelenses contra o Hezbollah são tão ilegais como um eventual ataque do governo do País a favelas em busca de traficantes.

O Itamaraty evita fazer comentários duros contra Israel publicamente porque espera fazer parte de uma eventual força internacional de paz da ONU que seria enviada à região. Para isso, porém, não poderia adotar um discurso mais favorável ao Hezbollah e condenar apenas as ações de Israel. O chanceler Celso Amorim tem dito que a operação militar israelense tem sido "desproporcional", mas não chega a afirmar que se trata de ações que poderiam se equiparar a crimes de guerra.

Em um dos telegramas enviados pelo posto do Brasil em Ramallah, por exemplo, os diplomatas acusam os EUA de serem "uma hiperpotência" e criticam o governo de Washington por sua posição no conflito.

Ontem, o embaixador brasileiro José Augusto Lindgren Alves decidiu partir para o ataque contra Israel e pediu medidas duras da Organização das Nações Unidas contra o governo de Tel Aviv por suas ações no Líbano. Lindgren Alves é membro do Comitê da ONU pela Eliminação da Discriminação Racial e alertou que se o organismo não tomar uma medida contra Israel, todos os especialistas das Nações Unidas "deveriam ir para suas casas". "Precisamos condenar essas ações (de Israel). Se isso não for um tema urgente, o que será?", afirmou o embaixador em um discurso na ONU.

Ele ainda comparou a situação do Hezbollah no Líbano ao do crime no Brasil. "Todos sabiam que o governo do Líbano era incapaz de controlar o Hezbollah, assim como o Brasil é incapaz de controlar o crime organizado. Seria então justificado que o Estado brasileiro bombardeasse certas favelas porque sabe que lá estão os senhores das drogas?", questionou o diplomata aos demais membros da entidade.

O embaixador, porém, não representa a posição do governo brasileiro no organismo da ONU e sua participação ocorre por causa de seu conhecimento sobre direitos humanos. Alguns especialistas de outras nacionalidades que integram o comitê alertaram que o organismo não teria o mandato para tratar do assunto. Mas vários membros do Comitê defenderam a posição do brasileiro.