Título: Só PC sucederá a Fidel, diz 'Granma'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Internacional, p. A18

Enquanto Raúl Castro se mantém nas sombras desde que assumiu o poder, na segunda-feira, e sem nenhuma nova informação sobre o estado de saúde do líder cubano, Fidel Castro, coube ao jornal oficial Granma indicar os rumos da sucessão em Cuba. O diário reproduziu ontem trechos de um discurso pronunciado por Raúl em 14 de junho, no qual ele reitera que "o Partido Comunista, como instituição que agrupa a vanguarda revolucionária e garante a unidade dos cubanos em todos os tempos, deve ser o digno herdeiro da confiança depositada pelo povo em seu líder".

Segundo analistas, as entrelinhas da mensagem visam a dispersar temores de desordem durante uma possível transição de governo. Por outro lado, de acordo com esses mesmos analistas, o discurso isenta Raúl da responsabilidade total pela condução do poder - que deve ser compartilhado com o partido. "É preciso que o partido se fortaleça como nunca, dado o decisivo papel que lhe corresponde nesta batalha", declarou Raúl no mesmo discurso.

Fidel, que completa 80 anos no dia 13, se recupera de uma delicada cirurgia para deter uma hemorragia intestinal. A última informação oficial sobre seu estado de saúde foi divulgada na terça-feira à noite, por meio de um comunicado supostamente assinado pelo próprio Fidel - no qual ele dizia estar com "bom ânimo", mas ressaltava que os boletins sobre sua saúde seriam tratados como "segredo de Estado".

A hemorragia - segundo a "Proclamação ao Povo Cubano", divulgada por Fidel na segunda-feira - teria sido causada pelo stress acarretado pelas viagens do líder a Córdoba, na Argentina, no dia 21, e ao interior de Cuba durante as celebrações da data nacional cubana, no dia 26. No mesmo documento, Fidel delegou suas atribuições de presidente, chefe do partido e comandante-chefe das Forças Armadas para Raúl. Foi a primeira vez, em 47 anos, que ele abandonou todas essas funções.

Não há informações disponíveis sobre quando, onde ou como a cirurgia foi realizada. Não se sabe também a causa exata da hemorragia nem se Fidel se recupera em casa ou em algum hospital. Menos ainda se sabe sobre o atual paradeiro de Raúl (ler ao lado).

Em meio à falta de notícias objetivas, a mídia governamental procura ressaltar a tranqüilidade das ruas nas principais cidades do país. Esse esforço de não perturbar a relativa calma dos cubanos seria uma das causas do silêncio de Raúl. "Se eu quisesse sugerir ao povo que tudo está tranqüilo, a última coisa que eu faria seria um discurso por televisão, como os que se fazem em tempo de crise", disse Hal Klepak, professor de história do Royal Military College do Canadá e autor de um livro sobre as Forças Armadas cubanas.

Em Washington, o Departamento de Estado reiterou que os EUA "estão prontos para ajudar Cuba numa transição democrática", mas voltou a criticar a designação de Raúl como sucessor de Fidel.