Título: Troca de dívida atinge só um terço da oferta
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Economia, p. B3

O governo brasileiro concluiu ontem operação de troca de US$ 500,3 milhões de títulos da dívida externa que vencem em 2020, 2024, 2027 e 2030 por bônus com prazo de vencimento em 2037. O valor da troca ficou muito abaixo da oferta inicial de US$ 1,5 bilhão e frustrou os analistas do mercado financeiro, que esperavam um volume maior. O resultado, porém, não foi interpretado como uma sinalização ruim para o Brasil.

Nesse tipo de operação, o Tesouro troca dívida cara por outra mais barata (para o devedor) e fortalece os papéis com prazos mais longos. O papel que teve maior troca foi o de prazo de vencimento em 2030. Do total de US$ 500,3 milhões trocados, US$ 335,8 milhões foram do Global 2030.

O spread da operação ficou em 205 pontos-base (inferior à menor taxa histórica do risco Brasil já registrada, de 214 pontos-base, no dia 2 de maio deste ano). O spread representa o rendimento que o governo aceita pagar aos investidores acima dos juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos com prazos semelhantes. No caso da operação de ontem, foram 2,05 pontos de porcentagem.

Para Julio Cardoso, economista do BVA, foi justamente a definição pelo Tesouro de um spread menor que reduziu o volume da troca. "A operação foi bem-sucedida, mas o Tesouro foi bastante criterioso nas taxas. Ele optou por fazer uma troca mais barata do que o mercado estava prevendo e isso reduziu o volume", disse o economista.

"Um sinal de que o mercado reagiu bem à operação foi o risco Brasil ter se mantido estável, mesmo sendo um dia de mais volatilidade", acrescentou. Para Cardoso, a estratégia adotada pelo Tesouro é correta porque melhora o perfil da dívida externa e reduz o risco País.

Uma fonte envolvida na operação disse ao Estado que um dos motivos para o resultado ter ficado abaixo do esperado é o fato de os papéis da dívida brasileira serem considerados hoje bons ativos. "Quando os investidores vêem positivamente os fundamentos da economia, é mais difícil retirar os papéis. Eles não querem se desfazer dos títulos brasileiros."

Boa parte dos títulos aceitos na troca está na mão de fundos estrangeiros. Com a troca, a quantidade do Global 2037 no mercado subiu de US$ 1,5 bilhão para US$ 2 bilhões. Como os papéis aceitos tinham preço mais alto do que o Global 2037, o Tesouro terá que pagar a diferença - calculada em US$ 253,5 milhões - aos investidores. O pagamento será feito no dia 16, com recursos das reservas internacionais do País.

A troca tem três grandes objetivos: assegurar uma definição mais justa de preços dos papéis brasileiros, reduzir a necessidade de financiamento do governo no curto prazo e economizar custos para o Tesouro.