Título: CNA critica governo na negociação do algodão
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2006, Economia, p. B9

Entidades empresariais do agronegócio criticaram ontem a postura do Itamaraty nas negociações comerciais internacionais e exigiram que o governo brasileiro volte à Organização Mundial do Comércio (OMC) para cobrar dos Estados Unidos o corte dos subsídios ao algodão. Para o assessor técnico da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antônio Donizeti Beraldo, "a falta de vontade política do Brasil" desmoraliza o sistema multilateral de negociação e o órgão de solução de controvérsia da OMC.

Em 2004, o Brasil pediu à OMC que investigasse os subsídios americanos ao algodão. Os EUA foram condenados, mas não fizeram o corte. "Eles mexeram em 10% do que foram condenados", disse Beraldo. A instalação de um painel permitiria à OMC conferir se os americanos estão cumprindo a determinação. O assunto foi discutido em reunião da Câmara Temática de Negociações Agrícolas.

O presidente da comissão e da câmara, Gilman Viana, ampliou as críticas para outros pontos da política externa brasileira. Classificou a reunião do G-20, marcada para setembro, como "artificial, jogo de espelhos". O grupo reúne as 20 economias em desenvolvimento que atuam em conjunto nas negociações da Rodada Doha da OMC. O objetivo da reunião é tentar relançar a rodada, interrompida em julho. Para Viana, "é um tiro n'água. Para a parte de comércio não adianta". Segundo ele, havia uma expectativa grande de liberalização comercial mas o "naufrágio" da rodada não pode ser "escondido com uma reunião do G-20".

MERCOSUL Em relação à adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul, ele cobrou a divulgação dos termos do acordo que permitiu a entrada do país no bloco. "Não está claro para nós o prazo que a Venezuela terá para fazer a desgravação tarifária e se o país renunciará ao sistema de bandas de preços." A iniciativa privada não foi ouvida sobre o assunto, disse.

Elem também considera importante saber em quanto tempo a Venezuela terá de se nivelar às regras do Mercosul. "Sem cronograma não dá para falar se é bom ou ruim, pois a situação fica elástica."

Nesta semana, em audiência pública no Senado, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reafirmou que a adesão da Venezuela ao bloco foi uma iniciativa positiva do ponto de vista econômico. Mas Viana mostrou-se preocupado com o "antiamericanismo" venezuelano. "Essa posição dificulta a formatação de uma proposta única do Mercosul."

Mesmo com todas as ressalvas, ele não avaliou a adesão da Venezuela ao Mercosul como mau negócio. "Abrir comércio interessa sempre, mas não podemos ser ingênuos. É preciso abrir o comércio de forma efetiva." O Brasil quer vender carnes bovina e de frango, subprodutos de carne, açúcar, chocolate e etanol para a Venezuela, atualmente abastecida pelos EUA.