Título: Candidato defende 'câmbio livre administrado'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2006, Nacional, p. A4

Em entrevista ontem à Agência Estado para explicar seus pontos de vista e planos para a economia, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, defendeu 'câmbio livre administrado' e política fiscal duríssima. 'Precisa melhorar muito', frisou. O tucano acusou o governo Lula de 'queimar dinheiro' em uma armadilha fiscal e listou as ações necessárias para reduzir o gasto público e fazer o País crescer. A seguir, os principais trechos da entrevista:

CÂMBIO

'Eu defendo o câmbio livre administrado. Mas entendo que a conjugação das três políticas - fiscal, monetária e cambial - precisa melhorar. O governo do PT, o governo Lula, tem uma política fiscal ruim. Gasta muito, os impostos, que já eram muito altos, continuam aumentando. Houve um aumento de carga tributária, aumento de gastos correntes numa proporção muito grande, política monetária com taxa de juros muito elevada esse período todo, num momento de grande tranqüilidade no mundo, onde não há especulação, ataque especulativo à moeda.'

POLÍTICA FISCAL

'A política econômica precisa melhorar, e muito. Uma política fiscal de melhor qualidade para agir nas causas do problema. Eu queria destacar o seguinte: hoje, como a política fiscal é muito ruim, a taxa de juros tem sido muito alta. Se nós conseguirmos melhorar a política fiscal, reduzir o déficit nominal, ter um prazo para zerar o déficit nominal, com taxa de juros menor, vai ter um câmbio melhor e pode, inclusive, se for o caso, comprar dólar sem ter grandes problemas.'

ARMADILHA

'Hoje o governo está queimando dinheiro, está numa armadilha fiscal. Porque ele compra dólar e aplica a 5%, 4% a 5%, e paga, quando emite título aqui, 14%. Então, está gastando uma fábula de dinheiro e não resolve o problema. Eu vejo que é preciso ter uma macropolítica econômica de melhor qualidade.'

GASTO PÚBLICO

'Eu vejo vários caminhos (para reduzir o gasto público). O caminho é imediatamente reduzir o gasto supérfluo: 34 ministérios, 50 mil cargos comissionados, corrupção, sobrepreço numa série de questões. A outra é eficiência no gasto público. Vou lhe dar só um exemplo: como governador economizei R$ 4 bilhões com um instrumento de tecnologia de informação, que é compra eletrônica, bolsa eletrônica de compras e pregão. A outra é o País crescer. O País cresce, e o Brasil tem de crescer forte, e você não deixa crescer os gastos correntes.'

AGÊNCIAS REGULADORAS

'(É preciso) trazer o setor privado para participar na área de infra-estrutura. Porque hoje, com as agências reguladoras, do jeito que foram desprestigiadas, enfraquecidas, você não tem segurança jurídica para poder atrair investimento privado para a infra-estrutura.'

DESENVOLVIMENTO

'O caminho para isso (crescimento sustentado) é: primeiro, segurança jurídica, respeito a contrato, reformas estruturantes, como a trabalhista, tributária. Qualidade da política econômica, política fiscal duríssima, política monetária mais compatível com o desenvolvimento. Câmbio, por conseqüência, mais competitivo. Microrreformas econômicas, trazer o setor privado para a infra-estrutura, concessão, PPP. Tem espaço, o Brasil não está condenado a ser o último da fila. Ele pode, sim, liderar o crescimento na região.'

BOLÍVIA

'A posição do Lula foi uma posição dúbia inicialmente, omissa, submissa. E ele falou que tinha de tratar a questão de forma carinhosa. Apoiou o (Evo) Morales na sua campanha. O presidente do Brasil tem de defender os interesses dos brasileiros. A posição do governo é absurda, ele coloca na frente do interesse nacional as questões partidárias, ideológicas, o que é um atraso.'

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

'A primeira coisa é a questão do déficit do setor público, que é o dobro do INSS, R$ 80 bilhões. É aprovar rapidamente as leis que criam os fundos de pensão. Ou seja, o governo garante a Previdência até R$ 2,8 mil e acima disso é previdência complementar. Essa é a prioridade absoluta. Depois, melhorar a questão de o Brasil crescer.'

REFORMA TRABALHISTA

'A informalidade é o grande problema, e uma das razões é a alta incidência de tributos sobre folha. É tudo sobre folha. É preciso, gradualmente, diminuirmos esse ônus. E fortalecer os acordos sindicais.'