Título: Programa de governo de Alckmin prega ajuste fiscal sem aumento de impostos
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2006, Nacional, p. A4

Com pouco mais de um mês de atraso, o PSDB lançará na próxima quarta-feira, no Rio de Janeiro, o programa de governo de Geraldo Alckmin à Presidência. O ex-governador paulista vai deixar claro que não há milagres para o País e que seu eventual primeiro ano de governo seria marcado por 'forte ajuste fiscal' e pela realização de um plano de obras de emergência. 'Vai ser preciso fazer um aperto fiscal e cortar todos os gastos supérfluos', observou o coordenador do programa de governo do partido, João Carlos de Souza Meirelles, um dos principais interlocutores de Alckmin. O aperto fiscal, enfatizou Meirelles, não significa aumento de impostos. 'É corte de desperdício.'

No conjunto das propostas a serem apresentadas, um dos destaques é o plano de obras que, segundo Meirelles, Alckmin pretende realizar na primeira hora do governo. Entre as intervenções consideradas fundamentais estão a duplicação de duas rodovias - a BR-101 e a BR-116 - e a recuperação de todo o sistema viário do País.

'A ênfase do programa de governo é a geração de emprego. Precisamos do País com estradas em ordem para facilitar o escoamento e, com isso, aumentarmos as exportações', argumentou Meirelles. 'A palavra de ordem para o País é emprego, emprego e emprego.'

Em cerca de 60 páginas, não há comprometimento com metas numéricas em nenhuma das áreas abordadas no caderno, da social à econômica, conforme o Estado antecipou em julho. O não-comprometimento com metas numéricas, na verdade, é lição extraída na campanha de 2002. Na ocasião, os candidatos José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram guerra de números, principalmente em relação à geração de empregos. Enquanto Serra defendeu a marca de 8 milhões de empregos, Lula bateu na tecla de que o País precisava criar 10 milhões de empregos.

Às vésperas do lançamento do caderno programático, Meirelles explicou que o fato de o PSDB não mencionar números e metas, por exemplo, para a inflação e a taxa de juros, se deve ao fato de que o Orçamento da União de 2007 é do governo Lula. 'O orçamento do primeiro ano todo mundo sabe que vem carregado de custeio. Lula aumentou tremendamente o custeio', disse o coordenador. 'A intenção foi fazer um programa realista para que tudo seja feito de maneira decente, e não demagogicamente.'

O caderno vai ser aberto com texto do próprio candidato e focado na tese do crescimento econômico com desenvolvimento social.

INDECISÃO

O formato do programa de governo tucano sofreu alterações durante sua elaboração. Primeiro, o PSDB definiu que iria lançar as propostas de Alckmin em 15 de agosto. Depois, decidiu fragmentar os 31 temas, dividindo o programa em fascículos. O partido chegou a disponibilizar 14 temas - que estarão no programa completo - no site do candidato (www.geraldo45.org.br). Um deles, o de combate à corrupção, foi apresentado ontem, em Juiz de Fora (MG).

Na semana passada, em meio à elevação da temperatura da crise interna tucana, com a divulgação da carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, nova estratégia foi traçada. Para apaziguar o fogo amigo dentro da legenda, o ato de lançamento do caderno programático se transformou, mais do que em qualquer outra coisa, em uma tentativa de pacificar o partido. No evento programado para o Rio, são esperados os principais líderes tucanos para a divulgação do projeto do PSDB para os próximos quatro anos.

'As mudanças (no formato do lançamento do programa) foram discutidas e são consensuais entre todos os integrantes da campanha. Agora achamos melhor lançar um caderno único', afirmou o coordenador do programa. Entre os temas das 14 áreas já apresentadas estão propostas para agricultura familiar, defesa nacional, educação e saúde. Há ainda uma série específica sobre o Nordeste, região em que o tucano tem seu seus piores índices nas pesquisas.