Título: Lula culpa era FHC por casos que PF investiga
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2006, Nacional, p. A7

Numa dura resposta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que havia denunciado em carta ao PSDB 'a podridão do governo', o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que 81% dos casos que a Polícia Federal desmontou começaram antes de 2003.

'Possivelmente ele também não sabia disso', prosseguiu Lula, em entrevista ao Jornal da Band. Sempre no ataque, disse 'lamentar que (FHC) não tenha sabido se comportar como ex-presidente, pois dá mais palpites agora do que quando era governo'. Também disse acreditar que FHC 'está irritado porque (o PSDB) não está muito forte nas pesquisas'. E arrematou com ironia: 'De mim poderiam esperar um comportamento até rude. Mas dele...'

Cobrado pelas tentativas do governo de calar a imprensa, garantiu que para ele 'liberdade não é um desejo, é um compromisso de vida'. E prosseguiu: 'Não que eu sempre concorde com o que a imprensa faz, às vezes ela também comete erros. Mas acho que o exercício da democracia permite isso, que a gente erre e, na melhor das hipóteses, o leitor é que vai julgar.'

Ele explicou que os projetos de criação de um Conselho Federal de Jornalismo e da Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav) 'não tinham sido sequer discutidos e, se não foram discutidos, são apenas o desejo pessoal de alguém'.

Para explicar as ações do governo contra o alto desemprego entre jovens de 16 a 24 anos (que, segundo o Dieese, está em 45,5%), Lula disse aos entrevistadores - Fernando Mitre, Franklin Martins e Ricardo Boechat - que seu governo 'está fazendo uma política forte' para a juventude. Citou programas como o ProJovem, o Chão de Fábrica e o ProUni e garantiu que, 'com a retomada da Lei do Aprendiz, o Primeiro Emprego deu um salto de qualidade'. Mas terminou por admitir que o emprego da juventude 'está ligado ao crescimento da economia'.

'LÓGICA APODRECIDA'

Sua famosa frase 'Fui traído' (no caso do mensalão) foi novamente cobrada e a explicação se repetiu: 'Sinto-me traído porque o PT foi criado para fazer uma política diferente. E de repente se viu que alguns enveredam pelo mesmo circulo vicioso da política brasileira, achando que o PT podia ser igual aos outros sem pagar nenhum preço'. Os que erraram, garante o presidente, 'vão pagar, ou na Justiça, ou porque os eleitores vão tomar conta de tentar moralizar um pouco a política brasileira'. A principal lição que tira de tudo é que 'o erro não é de um partido político ou de uma pessoa, mas de um sistema, que está apodrecido. A lógica da política brasileira está apodrecida'.

Assumindo praticamente a vitória em outubro, Lula destacou: 'Acho que vamos ter que, na política brasileira, pensar três quartos de um mandato no Brasil e deixar apenas um quarto para discutir a política.' Ele não aceitou a tese de que teria errado ao escolher auxiliares - como José Dirceu, Antonio Palocci ou Luiz Gushiken - cujos nomes foram citados em denúncias. 'Não houve erro. Não posso aceitar que o Parreira tenha errado nas escolhas, quando escalou o Juninho. O Brasil perdeu para a França, do mesmo jeito', justificou.

Seu governo, disse ainda o presidente, 'fez muita coisa' pela segurança. Citou iniciativas como integração policial, aparelhamento da PF, aumento de salário a policiais. Disse que 'não quer se eximir de culpabilidade', mas provocou os tucanos paulistas: 'Estamos aguardando que São Paulo nos mande os 40 presos para mandar para (o presídio de) Catanduvas.'