Título: Para governo brasileiro, decisão partiu do próprio Evo
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2006, Economia, p. B5

O governo brasileiro está ciente de que a resolução da Yacimientos Petrolíferos Fiscales de Bolívia (YPFB) de encampar as refinarias da Petrobrás partiu do próprio Evo Morales. Com estilo semelhante ao de Hugo Chávez, da Venezuela, Morales construiu uma administração autoritária, que centraliza todas as decisões de governo. Mais que um revide populista, a motivação teve como germe seu disputa interna com o pragmático Alvaro García Linera, o acadêmico que se tornou seu aliado e vice-presidente.

García Linera foi igualmente pego de surpresa pela decisão da YPFB, com total bênção do Ministério de Hidrocarbonetos, quando estava nos Estados Unidos tentando manter uma via preferencial para exportações bolivianas ao mercado americano. Para analistas do governo brasileiro, o vice-presidente tornou-se a única autoridade do governo boliviano realmente preocupada com o futuro dos setores produtivos locais. Essa posição é justamente a que o distancia e o opõe a Evo Morales, que ainda ¿não fez a transição de líder sindical para chefe de Estado¿.

Essa não foi a primeira vez que Evo Morales atropelou seu pragmático vice-presidente nesses oito meses de governo. Nos últimos três meses, García Linera tentava negociar com os Estados Unidos a prorrogação da medida que autoriza a redução de tarifas de importação para produtos bolivianos, com a contrapartida da implementação de programas de erradicação do cultivo da coca (ATPDE). Sua vigência terminará em 31 de dezembro.

Há dois meses, antes de uma primeira rodada de negociação nos Estados Unidos, García Linera pediu aos parlamentares bolivianos uma carta com argumentos em favor dessa prorrogação, para ser entregue aos congressistas americanos. Como vice-presidente, tem também a atribuição de presidente do Congresso. Durante a votação, Evo ordenou a retirada de todos os parlamentares de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS). No início da semana, enquanto o vice-presidente tentava demover Washington a encerrar o ATPDE, Evo denunciava, na Guatemala, um ¿complô dos Estados Unidos¿ para desestabilizar seu governo.

Antes de o governo boliviano suspender a decisão contra a Petrobrás, Evo disse que confiava em que as negociações com o Brasil avançariam em bom termo, por conta das ¿excelentes relações¿ que mantém com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. ¿Se alguém da Petrobrás suspendeu, é uma decisão unilateral, mas de Estado a Estado temos excelentes relações¿, disse Morales.