Título: Até aliados são atingidos, diz Tarso
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2006, Nacional, p. A5

Em mais uma tentativa de municiar os militantes do PT para defender o governo das denúncias de corrupção, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, acaba de distribuir sua "nota de conjuntura 11", na qual classifica os ataques contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de simples "resíduos acusatórios" no meio do tiroteio eleitoral da campanha.

Com duas páginas, a nota destaca que as investigações da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União atingem todos "indistintamente", até mesmo políticos da base aliada. Sem citar o escândalo dos sanguessugas e dizendo que o debate sobre a corrupção brasileira - iniciado com as denúncias do mensalão - encontra-se num "novo patamar", Tarso é irônico ao mencionar a frente de apoio a Lula no Congresso: afirma que parte significativa dessas "bases", com aspas, "sempre apoiou ou esteve vinculada a qualquer governo" no País.

"Quadrilhas operavam impunemente há cinco, dez ou 15 anos. Emendas orçamentárias eram instrumentalizadas, legal ou ilegalmente, há décadas", observa o ministro no texto, obtido pelo Estado. Até agora, o número de parlamentares acusados de envolvimento na máfia dos sanguessugas chega a 84, mas a denúncia não partiu do governo, e sim da CPI e da Procuradoria-Geral da República.

LIVRO VERMELHO

Numa periodicidade que varia de uma semana a 15 dias, as notas de conjuntura são produzidas por Tarso desde maio. A coletânea já tem 11 textos, que constituem uma espécie de "Livro Vermelho" do articulador político do Planalto. Enviadas por e-mail a uma lista de companheiros, essas cartas buscam "orientar" os militantes. Nas últimas, Tarso defendeu o governo de coalizão com o PMDB.

A nova análise do ministro resume uma estratégia da campanha de Lula. Amparada por pesquisas indicando que as denúncias não colaram no presidente - apesar de atingirem em cheio o PT e o governo -, a cúpula petista tenta passar a idéia de que a corrupção é sistêmica.

"No debate sobre a corrupção e a reforma, nossos militantes devem estar atentos para o fato de que nenhuma acusação contra o presidente da República foi comprovada", argumenta Tarso. "Nunca algum governo investigou tanto a si mesmo."

Se a reforma política não for feita até junho de 2007, a instabilidade deve continuar, diz Tarso, "formando um verdadeiro sistema de poder paralelo no País". Com o mesmo discurso de Lula na TV, o ministro afirma que o esgotamento do sistema partidário é "campo fértil" para a reprodução de "tolerâncias, erros e ilegalidades".