Título: Brasil de contrastes também no emprego
Autor: Patrícia Cançado
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2006, Economia, p. B4

O Brasil é mesmo um país de contrastes. Enquanto algumas empresas contratam em massa, outras igualmente grandes fazem demissão no mesmo ritmo. E de uma vez só.

Apesar da fase próspera vivida pelas empresas de ferrovias no Brasil, na quarta-feira passada a América Latina Logística (ALL) anunciou o corte 2,5 mil funcionários. Os empregados pertenciam ao quadro da Brasil Ferrovias, adquirida pela ALL em maio deste ano.

Os cargos técnicos foram poupados. As demissões ocorreram principalmente na área administrativa. Os cortes foram feitos em junho, mas a companhia segurou a má notícia por dois meses, deixando para divulgá-la junto com os resultados financeiros do segundo trimestre.

Em julho, após uma longa e difícil negociação com o sindicato dos metalúrgicos , foi a vez de a Volkswagen mandar para casa uma leva de funcionários. A companhia cortou 160 metalúrgicos da unidade de Taubaté num único mês. Outros 140 metalúrgicos serão desligados até o fim do ano. Nos próximos dois anos, não haverá trégua. Ao todo, a Volks prevê demitir 700 empregados só na unidade de Taubaté.

As outras unidades também sofrerão cortes drásticos. A Volks quer reduzir em 25% os custos com a produção no Brasil. Para chegar a essa conta, pretende cortar entre 4 mil e 6 mil funcionários até 2008.

A montadora não tem tido o mesmo êxito de uma Vale do Rio Doce ou de uma Suzano Papel e Celulose nas vendas para o exterior. A queda nas exportações é o principal motivo apontado pela companhia para promover as demissões.

COMOÇÃO

O caso que certamente provocou mais comoção na sociedade e entre os próprios funcionários foi o da Varig. A combalida companhia aérea cortou no mês passado 58% de toda a sua mão-de-obra. Ao todo, foram colocados na rua 5,5 mil empregados de uma vez só.

Os ex-funcionários choraram, foram reclamar na Justiça e fizeram greve nos aeroportos do País. Uma parte da turma, sobretudo pilotos e comissários, deve ser absorvida pela concorrência. A TAM, líder quase isolada da aviação, já anunciou que deve absorver cerca de 200 profissionais da Varig. O assunto foi parar até nas páginas da Playboy. A revista masculina convidou três aeromoças demitidas para posar nuas. O ensaio deve sair na revista de setembro, antes que o assunto perca o interesse.

A onda de demissões em massa não deve ser uma tendência entre as grandes indústrias brasileiras. De maneira geral, o clima é de otimismo para os próximos meses entre os empresários do País.

Na última sondagem da indústria da transformação, feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 26% das empresas planejavam contratar e 13% tinham intenção de reduzir a mão-de-obra no terceiro trimestre. A diferença, de 13 pontos porcentuais, é o segundo melhor resultado dos últimos dez anos para meses de julho.