Título: Desigualdade é a menor em 46 anos, afirma presidente
Autor: Beatriz Coelho Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Nacional, p. A7

O presidente Lula afirmou ontem que, em conseqüência de seu governo, a população vive no Brasil "menos desigual dos últimos 46 anos". Na abertura do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva e do 11º Congresso Mundial de Saúde Pública, no Riocentro, ele insistiu em que o País tem a melhor distribuição de renda desde 1960.

Ele afirmou que em 1993 a população mais pobre detinha apenas 12,1% da renda nacional. E até dezembro deste ano, na projeção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os 50% mais pobres vão deter 15% da renda.

No discurso, Lula fez um balanço do seu governo, recheado de auto-elogios, especialmente na área social. "A estabilidade econômica e o crescimento com inclusão social possibilitaram a criação de uma média de 100 mil empregos formais por mês, nos últimos anos, com forte incremento no poder aquisitivo", afirmou. "Houve uma forte redução no custo dos alimentos da cesta básica, associado ao aumento do salário mínimo e, pelo terceiro ano consecutivo, os reajustes salariais que dependem de negociação coletiva superam a inflação. Só neste primeiro semestre, os salários reais ficaram 4,4% acima do mesmo período no ano passado."

Lula disse ainda que seu governo deu prioridade para as políticas sociais. "Mais de 11 milhões de famílias estão incluídas no Bolsa-Família, principal instrumento do Fome Zero."

Diferentemente da ocasião em que afirmou que a saúde brasileira estava perto "da perfeição", Lula reconheceu que ainda há muito a fazer pelo avanço do setor. "Já estive do lado da fila. Já estive do lado daqueles que não conseguem atendimento." Ele defendeu a exportação do Sistema Único de Saúde (SUS) para as nações pobres. "O que podemos é levar o modelo, que está dando certo, como projeto para que países ricos ajudem a implantar sistemas como esse nos países pobres."

Disse ainda que pretende ajudar os sanitaristas. "O compromisso que quero assumir, não enquanto presidente, mas enquanto cidadão, é o de que vocês podem contar comigo para ser um peregrino por este mundo afora, pedindo aos governantes que não permitam mais que os países pobres vejam seus filhos morrerem porque não têm acesso a remédios caros."

DOCUMENTO Mas entidades do setor entregaram a Lula documento em que alertam que o Brasil gasta muito pouco em saúde, menos de R$ 1 por dia por habitante. Os recursos per capita ao ano variam de US$ 125 a US$ 150, um dos menores valores do mundo. A Argentina gasta US$ 362 em média e o Uruguai, US$ 304. Na Europa, a média é de US$ 1.400.

Intitulado "O SUS para Valer: Universal, Humanizado e de Qualidade" e formulado por Abrasco, Cebes, Abres, Rede Unida e Ampasa, o documento afirma que "os governos se tornaram prisioneiros de sua política monetária". E pede que os candidatos à Presidência assumam o compromisso de garantir a saúde como um direito de todos.