Título: Há fundamentos para impeachment, afirma FHC
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Nacional, p. A7

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem que as irregularidades cometidas por petistas no governo justificariam o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em palestra sobre "Ética e Cidadania" em São Paulo, FHC afirmou que o impeachment de Fernando Collor foi fruto de corrupção isolada, promovida por "alguém que não era do governo", e que o quadro político brasileiro, "que já era horrível", piorou na administração atual ao disseminar a corrupção "por um conjunto de pessoas, ministros do governo, formando uma cadeia".

O tucano aproveitou a entrevista de Lula ao Jornal Nacional, da Rede Globo, há duas semanas para cutucar os petistas. Na ocasião, o presidente disse pela primeira vez ter sido o responsável pela demissão dos ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda), o que contraria versões oficiais. "Não por acaso hoje ou ontem, quando seja, o presidente da República diz: 'Eu demiti os meus ministros.' Devia ter demitido. Mas não demitiu. E ao não demitir, admitiu. E ao demitir tem que ser responsabilizado."

FHC admitiu que parte da atual crise pode ser atribuída ao "atual sistema (político) irresponsável, que precisa ser combatido", mas afirmou que há a "questão de polícia e de tribunal". "É uma situação que pode terminar em crise", prosseguiu. "Aconteceu isso na Venezuela, com a eleição de Hugo Chávez", exemplificou. "Temos que evitar que isso aconteça. É um caminho de crise institucional."

Para o ex-presidente, falta "um curto-circuito", "alguém que grite 'basta' com força", para mobilizar a sociedade e fazê-la reagir. "Alguém que dê nome aos bois e se arrisque." Foi aplaudido ao citar o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-SP) - que denunciou o mensalão -, classificando-o de "exemplo banal". "É preciso ter coragem e dramatizar. Está faltando o dramatizador", disse, isentando-se desse papel por não estar disputando as eleições.

O evento contou com a presença de José Serra, candidato tucano ao governo. União Paulista pela Ética e Cidadania assumiu a organização, mas ninguém soube dizer os custos e quem o bancaria.