Título: Desafiante, Saddam enfrenta 2º julgamento
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Internacional, p. A14

Um desafiante Saddam Hussein recusou-se ontem a apelar das acusações de genocídio e voltou a qualificar de ilegítimo o tribunal que abriu o segundo julgamento contra ele, desta vez pelo massacre de 50 mil a 180 mil curdos no norte do Iraque, entre 1987 e 1988 - numa operação que ganhou o codinome de Anfal (ver box). Os promotores mostraram fotos de corpos de mulheres e crianças - incluindo o de um bebê ao lado de uma mamadeira - em uma aldeia do Curdistão iraquiano. Um grande mapa do norte do Iraque foi exibido na sala da corte para indicar a região na qual, de acordo com a acusação, a população foi exposta a gás mostarda e agentes químicos que afetam os nervos.

Saddam assistia à exposição da defesa usando o mesmo paletó preto e camisa branca que vestia durante o primeiro julgamento, iniciado há nove meses - no qual foi acusado de ter ordenado a matança de 148 xiitas, também com gás venenoso, em Dujail, em 1982. Tanto no caso Anfal quanto no de Dujail, Saddam e os demais acusados podem ser sentenciados à morte por enforcamento.

Quando o juiz do tribunal pediu que ele dissesse seu nome, Saddam respondeu: "Você me conhece." Logo depois, afirmou que o julgamento era ilegítimo, porque se realizava "sob leis de ocupação".

Ante a insistência do juíz, ele respondeu: "Sou Saddam Hussein, presidente da República do Iraque e comandante supremo das Forças Armadas."

Entre os demais réus, estava Ali Hassan al-Majid, primo de Saddam , conhecido como Ali, o Químico. Tanto Saddam quanto Al-Majid se mantiveram em silêncio quando indagados se se consideravam culpados das acusações.