Título: Um ícone da indústria sob risco
Autor: Cleide Silva e Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Economia, p. B3

Inaugurada em 1959 pelo presidente Juscelino Kubitschek, a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, foi o símbolo da chegada da indústria automobilística ao País. Mais tarde, a região se transformou no berço do sindicalismo brasileiro e foi lá que o então metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva fez carreira como líder sindical.

As operações da fábrica começaram em 1957, com a montagem do Fusca e da Kombi, perua que até hoje está em linha. A fábrica já foi considerada uma cidade, com infra-estrutura como semáforos, igrejas, padarias e agências de correio. Nos anos 70, chegou a empregar 40 mil pessoas. Hoje, as cinco fábricas do grupo (as três de automóveis envolvidas no plano de reestruturação e uma de motores e outra de caminhões) empregam 24 mil pessoas.

Apesar de ser considerada obsoleta por produzir modelos como a Kombi e até recentemente o Santana, em 2000 a fábrica Anchieta recebeu investimentos de R$ 2 bilhões para a produção do Polo, modelo que hoje tem baixa venda. Em 2004, foram aplicados mais R$ 100 milhões para a linha do Fox Europa, modelo produzido só no Brasil. A previsão inicial era de exportar 100 mil unidades ao ano para a Europa, mas a Volks alega que o real valorizado tirou a competitividade do produto e as encomendas encolheram.

"Fechar a fábrica seria uma decisão extremamente agressiva, pois a unidade recebeu muitos investimentos", analisa o consultor Paulo Cardamone, da CSM Worldwide, especializada em indústria automobilística. Segundo ele, a Anchieta é a maior fábrica da Volks no Brasil e a empresa teria de mudar toda sua geopolítica de produção no País. "Fechar essa unidade para investir em outra que receberia a produção não faria sentido."

A ameaça deixou o prefeito Willian Dib (PSB) de cabelos em pé. Ele solicitou uma reunião com a diretoria da montadora para discutir o que pode ser feito para evitar uma decisão radical da empresa, mas ainda não obteve resposta.

A preocupação do prefeito se justifica. Para o município, o fechamento da fábrica seria o caos. Não só por causa da arrecadação e dos empregos diretos que a montadora mantém, mas também pela estrutura de serviços que foi montada ao redor da fábrica, que emprega mais trabalhadores do que a própria Volks (12 mil).

Nesse sentido, a prefeitura tem se esforçado para atender às necessidades de infra-estrutura reclamadas pela montadora. Recentemente, foi revisto o cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) da fábrica. O valor do imposto caiu de cerca de R$ 11 milhões para R$ 7,15 milhões , o que representou redução de 35%, uma economia de R$ 2,85 milhões para a empresa. Também foram executadas obras de remodelação viária do local. Além disso, o prefeito pediu e o governo estadual deverá inaugurar em breve um novo viaduto na entrada da fábrica, localizada na Rodovia Anchieta.