Título: Evo manda seu vice negociar com Lula
Autor: Stella Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Economia, p. B5

Depois de fomentar um sério conflito com o Brasil, ao nacionalizar a produção e a venda de gás natural, e de se dar conta de seus limites para desenvolver o setor, a Bolívia envia nesta semana a Brasília um emissário para retomar o diálogo com seu maior investidor. O vice-presidente Álvaro García Linera chega na quinta-feira para encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e de Minas e Energia, Silas Rondeau. Não está prevista a presença do presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli.

Linera está ciente de que não conseguirá arrancar de Lula o aval para a negociação governo a governo do reajuste dos preços do gás vendido ao Brasil. Na lógica de La Paz, levar a discussão para o campo político significaria aumentar as chances de concessões da Petrobrás. Apesar das bravatas do presidente boliviano, Evo Morales, o Brasil manteve a posição de não interferir em um tema de ordem empresarial, que vem sendo conduzido pela Petrobrás.

Também interessa a Linera discutir com Lula os dilemas vividos por La Paz para implementar seu modelo de nacionalização e expandir a produção.

Passados três meses da publicação do decreto de nacionalização, o governo boliviano enfrenta dificuldades financeiras e de contratação de recursos humanos para estruturar a estatal que comandará o setor, a Yacimientos Petroliferos Fiscales de Bolívia (YPFB).

Recriada no papel, a YPFB requer a liberação de US$ 180 milhões do Banco Central boliviano para se efetivar. Mas essa operação não conta de embasamento jurídico. Mais grave é o provável limite da capacidade de produção de gás boliviana, atualmente de 37 milhões de metros cúbicos ao dia, em 2007.

Fontes da diplomacia brasileira informaram que a superação desse teto se tornou missão crucial para Evo. Esse desafio depende de tempo - de dois a três anos para a construção de novos gasodutos - e de investimentos - espantados pelo estardalhaço no anúncio da nacionalização e pela ocupação militar de plantas do setor. Em 2007, o Brasil deve elevar suas compras de gás natural da Bolívia de 24 milhões para 30 milhões de metros cúbicos ao dia.